sábado, 13 de março de 2010

Ignorados - 13/03/2010


Minas saltou do sexto para o terceiro lugar entre os Estados mais homofóbicos


Tudo começou em Belo Horizonte, quando o saudoso Itamar dos Santos fundou o Grupo Guri e começou a distribuir camisinhas para os gays da cidade. Já naquela época, estabeleceu-se uma parceria entre a sociedade civil e o governo, que fez com que Minas Gerais alçasse voo em importantes instâncias de representação nacionais, tanto no âmbito da defesa dos direitos LGBT quanto no próprio movimento de luta contra a Aids, modelo para centenas de outras causas e suas bandeiras.

Essa parceria fez com que, desde a segunda metade da década de 1980, resultados concretos pudessem ser auferidos pelos governos do Estado e de dezenas de municípios de Minas, fruto de um trabalho que reconhece a capilaridade da sociedade civil e sua competência para alcançar os homossexuais em seus redutos. Uma parceria de sucesso que ajudava a projetar o Estado, a reduzir custos com a saúde e a fazer justiça social. Um trabalho em conjunto que se perdeu, diante da dificuldade do Estado em dialogar com o movimento LGBT e da inatividade dos órgãos públicos frente à questão.

As consequências dessa postura podem ser vistas agora, a partir dos dados que acabam de ser divulgados no tradicional relatório do Grupo Gay da Bahia com os assassinatos de homossexuais no Brasil em 2009. As 198 vítimas revelam que, a cada 43 horas, ou seja, menos de dois dias, um cidadão brasileiro homossexual é vítima do preconceito e perde sua vida.

O silêncio governamental provocou um crescimento de 75% no número de assassinatos por homofobia: um crescimento gigantesco se comparado com os 6% da média nacional. Minas saltou do sexto para o terceiro lugar entre os Estados brasileiros mais homofóbicos. Foi mais de um assassinato por mês, sendo 78% deles no interior. Em Belo Horizonte, Uberlândia e Ribeirão das Neves, a homofobia matou duas vezes no ano passado. Na lista, entram ainda outras oito cidades para completar o quadro trágico de oito travestis e seis gays assassinados em Minas.

Lamentavelmente, o governador Aécio Neves e sua equipe vêm ignorando os alertas constantes do movimento LGBT. E os resultados estão aí: um crescimento assustador dos crimes homofóbicos; uma quantidade impressionante de denúncias de agressões e maus-tratos recebidas pelas nossas ONGs, e os preocupantes patamares da infecção pelo HIV nessa camada da população. Não dá para fingir que não vê.

Camisinha sempre!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por deixar seu comentario.