Há mais de dez anos, a participação dos gays, homens que fazem
sexo com homens e travestis no universo da epidemia da Aids no Brasil se mantém
em patamares bastante elevados. Desde meados da década de 1990 que significamos
cerca de 40% do total de homens infectados pelo HIV. A gravidade da situação se
escancara quando considerarmos que o Brasil contabiliza anualmente 35 mil novos
casos da doença e que as estimativas oficiais consideram que 3,5% dos homens
brasileiros sexualmente ativos fazem sexo com outros homens.
Durante muito tempo, os gays
somente foram lembrados pelas políticas governamentais quando prioritários
entre os "grupos de risco" para a Aids. O estigma da peste gay ainda
perduraria por muitos anos, mesmo depois que heterossexuais se tornaram a
maioria dos doentes. O próprio movimento gay organizado insistiu para que
outros setores governamentais se envolvessem no combate à homofobia e assim
aliviassem o incômodo vínculo entre a doença e homossexualidade.
Essa tentativa de "deshomossexualizar" a epidemia pode
ser a responsável pelos patamares tão elevados: continuamos tão vulneráveis ao
HIV como estávamos há 15 anos, demandando ações especificas que reduzam nossas
fragilidades. A epidemia no Brasil ainda se concentra em grupos bastante
reconhecidos - entre eles os gays, travestis e bissexuais - e com
vulnerabilidades facilmente perceptíveis. Entre as mais graves, a homofobia e a
transfobia, aversões que fragilizam a cidadania dessa camada da população,
afastando-a dos serviços públicos de saúde, educação, Justiça e segurança
pública.
Preocupados, Ministério e Secretarias Estaduais de Saúde
desenvolvem programas de enfrentamento da Aids entre os gays e buscam
alternativas para os métodos de prevenção que há anos vêm sendo adotados. Em
busca de maior eficiência para o desgastado padrão de intervenção in loco
fundado no acesso universal à camisinha e informação, vem-se incentivando uma
verdadeira tempestade cerebral coletiva na busca de novas formas de intervenção
junto a essa população.
Se por um lado, é fundamental que tentemos ampliar o leque de
opções de prevenção oferecidas aos cidadãos, até segunda ordem o preservativo
continua a ser a única forma eficiente de se evitar a infecção pelo HIV.
Bem-vindas as novas tecnologias de abordagem, o aperfeiçoamento dos processos
de logística; a ampliação da rede de dispensação; o conhecimento efetivo das
populações onde se concentra a epidemia. Mas, nada disso pode ser dissociado do
preservativo.
Portanto, até que a ciência avance e apresente novas soluções:
camisinha. Sempre!
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