É curioso observar a expressão de espanto das pessoas quando contamos que estamos vivendo há tanto tempo juntos. Ainda permanece no entendimento coletivo a ideia de que somos superficiais, efêmeros, promíscuos e desprovidos da capacidade de amar e nos casarmos.
Como ocorre com a maioria dos jovens, sonhamos encontrar nosso
príncipe encantado e vivermos felizes para sempre. O ideal de busca do amor
eterno continua a atormentar jovens e adultos e a provocar esse triste
sentimento de solidão e fracasso aos que ainda não encontraram sua metade da
laranja. Isso não é uma exclusividade do amor heterossexual, nem tampouco
daqueles que gozam do direito de legalmente poderem se casar.
São inúmeros os casais homossexuais que constroem uma vida feliz
juntos, contra as mais pessimistas previsões baseadas nas falhas habituais dos
casamentos heterossexuais que conhecemos. E talvez esteja exatamente aí o equívoco,
tanto daqueles que nos olham quanto de nós mesmos que buscamos incansavelmente
nosso pote de ouro além do arco-íris.
Fracassam as tentativas de se estabelecer uma relação gay
duradoura quando baseada nos padrões heterossexuais de divisão de papéis de
gênero. Numa relação homossexual, ninguém está representando o papel do gênero
oposto: ou estamos falando de duas mulheres ou dois homens encarregados de
construir e entender como funciona essa nova família. E isso não nos isenta de
fracassos, mas sem dúvida seus motivos não se localizam na homossexualidade em
si, mas, sim, nos próprios equívocos presentes nessa busca incessante pelo
parceiro ideal, seja macho ou fêmea.
Apesar de ainda desacreditadas, as relações entre pessoas do mesmo
sexo são cada vez mais comuns e têm se apresentado como uma proposta
alternativa de construção de um ideal de família harmoniosa e feliz, onde o
estar junto se baseia única e exclusivamente no prazer da convivência e no
amor. Se por um lado conseguimos nos livrar dos conflitos causados pelas
diferenças de gênero, por outro trazemos à tona as disputas oriundas de uma
relação entre iguais, onde o fato de ser homem ou ser mulher não significa o
ponto final nas celeumas: somos todos iguais nessa noite, e as diferenças entre
o masculino e o feminino não servem como panaceia para nossos entreveros.
Sim, sonhamos e desejamos encontrar alguém que esteja ao nosso
lado quando a velhice chegar. A solidão só nos serve quando optamos por ela,
não quando ela nos é imposta. Nesse sentido, é no mínimo humano apoiar e torcer
para que cada um de nós encontre a sua tampa da panela, mesmo contra as mais
conservadoras reações.
Camisinha sempre!
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