sábado, 19 de setembro de 2009

Calor humano - 19/09/09




O rádio nos informa a surpreendente e encantadora notícia de que o prêmio Swisseletric Research Award 2009, um dos mais importantes prêmios de incentivo à pesquisa de novas formas de energia, foi entregue a Wulf Glatz, um cientista de 35 anos da Escola Politécnica Federal de Zurique, que criou um pequeno transformador capaz de aproveitar o calor corporal como energia. Tal transformador vai possibilitar, por exemplo, que a bateria de um celular possa ser carregada com o calor produzido pelo corpo humano. E mais um dos nossos românticos conceitos se rende aos avanços da ciência.


Calor humano. Muito além do calor gerado pelos 36,5ºC da nossa temperatura corporal, mas pela imensurável troca de energia que um grupo faz acontecer quando recebe alguém com carinho e atenção. Receptividade, acolhimento, aconchego. Algo que se pede e se dá por instinto; sentimento calado que orienta o prazer de se estar entre pessoas. Sentimento de chegada, solidariedade, boas-vindas.


Calor humano é espontâneo: não é uma dádiva individual, mas de um grupo, que se comunica por telepatia e que estabelece um consenso mudo. Calor humano a gente dá, sem pedir licença e sem que isso faça parte de estatutos. Tem os que se contentam com pouco, os que exigem demais, os que percebem de cara e os que precisam ser sempre lembrados: nosso termômetro está diretamente relacionado com o nível de carência, de aceitação pessoal, o contexto social, nossa formação e história.


Apesar de tão fundamental, existem pessoas que não sabem o que é calor humano, porque nunca o tiveram. Mesmo esses estão sempre em busca, como a um deus, que não se vê, não se toca, não se conhece, mas que se tem a certeza de que encontrá-lo nos tornará um pouco mais humano. E feliz.


Por traz de nossa luta áspera contra a homofobia, por respeito, dignidade, equidade e emancipação, está um pedido de aceitação e acolhimento que se traduz em calor humano. Algo de que carecemos por aí, mas que encontramos nos nossos guetos e que tem sido a salvação de muitos solitários conformados, que sequer se consideram vítimas de preconceito.


Nossos ancestrais pré-históricos dependiam dele para se manterem vivos. Por mais que hoje dominemos a produção de energia, não conseguimos ainda substituir o calor humano. Os que já se deliciaram com isso sabem que essa energia recarrega muito mais que pequenas baterias de celular.


Camisinha sempre!

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