A concessão de prêmios sempre foi uma interessante estratégia de marketing e promoção de causas, ideias e produtos. Empresas de relações públicas, agências de propaganda, associações profissionais, e, principalmente, organizações sociais, utilizam-se da estratégia para homenagear alguém, reconhecer e descobrir valores.
Criar um prêmio não é de todo difícil: bola-se um bom nome, uma marca forte, contrata-se um artista de renome para fazer o troféu ou coisa que o valha, uma boa propaganda, critérios, um sistema de votação e apuração de resultados, tudo isso emoldurado por uma belíssima noite de festa, com muitos flashes, artistas globais, colunáveis, políticos e jornalistas. E dinheiro, é claro, pois isso tudo custa caro.
A falta do dinheiro, entretanto, não tem impedido muitos de criarem seus prêmios e tocarem o barco como for possível: se não deu para ter um artista global, uma solução local já ajuda; se não deu para ter o troféu do artista famoso, um vidro jateado ou um canudo de acrílico estão de bom tamanho; se a imprensa não vai, um release planta umas notinhas no dia seguinte, enfim, ninguém deixa de criar um prêmio por falta de dinheiro. Mas, se é possível improvisar com os poucos recursos, o sucesso não abre mão de dois pontos: continuidade e credibilidade. Aí não tem jeito.
Um dos mais famosos, o Prêmio Nobel, instituído em testamento pelo criador da dinamite, Alfred Nobel, foi entregue pela primeira vez em 1901 aos destacados servidores da humanidade nos campos da física, química, medicina, literatura e paz. Outro, cuja fama do troféu superou o título do prêmio, é o popular Oscar. Desde 1927, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA investe na credibilidade e na continuidade do seu prêmio de mérito. Ou ainda o também norte-americano Pulitzer, administrado pela Universidade de Columbia, de Nova York, que reconhece talentos na área do jornalismo, literatura e música desde 1917.
E muitos outros. Muito suor, muito rigor, muita imparcialidade, critério e perseverança são os exemplos que nos apresentam esses estrondosos sucessos de utilização dessa brilhante estratégia.
Que fique, portanto, a reflexão para aqueles que se dispõem a superar todos os obstáculos e criam um prêmio para homenagear valores na luta pela cidadania LGBT, mas que já começam trocando o mérito efetivo por favores baratos e presenças interesseiras. Premiar aqueles que usurpam das poucas políticas públicas conquistadas a duras penas pelo movimento LGBT é jogar por terra a credibilidade e a continuidade do prêmio, quiçá a idoneidade de seus promotores.
Camisinha sempre!