Luiz Mott roubou a cena do terceiro Congresso da ABGLT, em Belém,
diante de uma plenária perplexa. Menos com os assustadores 55% de crescimento
nos assassinatos de homossexuais em 2008 e os assustadores detalhes da
carnificina impune que nos assola, apresentados em seu tradicional relatório
anual; e mais com a proposta do antropólogo de uma mobilização em torno do
slogan: "Mate em legitima defesa da vida!".
O desabafo do Prof. Mott, ou
o grito de socorro proferido pelo respeitado ativista e estudioso do movimento LGBT brasileiro, responsável pelas mais referendadas e repetidas estatísticas
que monitoram a homofobia no país, vai muito além da rasteira interpretação de
um incentivo a atentados psicóticos revanchistas contra a vida humana. Ou a um
levante armado contra a população heterossexual. O movimento LGBT brasileiro é
maduro o suficiente para já ter percebido que não é através da violência que
alcançaremos nossos objetivos e conquistaremos respeito.
Quando Mott se apropria da
legitima defesa para convocar a comunidade gay a agir e não sucumbir nas mãos
dos preconceituosos, ele cobra efetividade nas políticas públicas de combate à
homofobia para que não sejamos nós mesmos obrigados a decidir entre morrer ou
matar. Ele pede para que não engrossemos suas macabras estatísticas. Denuncia o
homocausto no país que apregoa a garantia dos nossos direitos.
Ao falar em legitimidade,
Mott nos lembra que o Governo Federal orgulhoso pioneiro mundial na convocação
da Conferencia Nacional LGBT, se comprometeu a apoiar a aprovação do PLC 122
que compara a homofobia ao racismo e torna crime o preconceito contra os gays.
Passados quase um ano, continuamos tão vulneráveis ou mais.
Responsável pela apuração
dos crimes homofóbicos no Brasil desde 1980, o Prof. Mott ainda se indigna ao
apresentar dados que comprovam o crescimento dos assassinatos no Brasil
enquanto constata que, nesses 21 anos de Constituição Cidadã, não foi aprovada
sequer uma lei federal que nos defenda e garanta os nossos direitos.
Com seu grito de alerta,
Luiz Mott lembra que continuamos indefesos diante dos que se recusam a admitir
nossos direitos. Pede que não ofereçamos a nossa vida em sacrifício; que não
sejamos mártires e que invertamos nós mesmos esses dados. Que acreditemos no
nosso direito à legítima defesa a ponto de matar, e não morrer por ela.
Camisinha sempre!