sábado, 4 de abril de 2009

Cabra Fino - 04/04/2009





"É preciso ser muito macho para ser gay". A mulher guerreira é o "homem da casa". Nesse mundo "macho dominante", ao masculino, as virtudes.

Não existe um gay que não seja um "cabra macho" desafiando a homofobia em nome de sua verdade, seu prazer, seu amor. Se o macho continua sendo a referência, nós, gays, somos o desafio ao gênero: amamos um igual. Rendemo-nos ao prazer do toque da pele, sem simular repugnância ou nos sentirmos ameaçados diante de uma declaração de amor e desejo vinda de outro homem. De qualquer jeito, um elogio masculino faz com que o mais macho dos machos derrape em sua vaidade e sinta-se um garanhão, superior, desejado. O reconhecimento de outro homem - um potencial rival - infla sua vaidade e desperta seu poder de sedução.

A bagagem machista do presidente Lula não é diferente. Durante discurso em Recife elogiou os trabalhadores brasileiros comparando os "cabras machos", que seguram a onda e não interrompem seu trabalho diante de uma gripe; aos "cabras finos", que fraquejam diante de uma doença qualquer.

"Cabras finos"? Diacho! Pode ser "fino" de magro, relacionando a estrutura franzina à ausência de saúde, o que nem sempre procede. Com certeza não foi essa a comparação presidencial. Não faria sentido a referência a "fino" de finesse, requinte: qual a relação entre um homem requintado e o enfrentamento de uma gripe "no batente"?

Pode ser então que o "fino" tenha a ver com delicadeza, fragilidade, na medida em que os brutamontes consideram que pessoas delicadas tendem a sucumbir facilmente ao primeiro sinal de uma gripe.

A polêmica resvalou pela homofobia e o "fino" do presidente Lula passou a ser interpretado como uma alusão aos gays. Bem, talvez tenha sido mesmo, mas a sutil gaguejada que acompanhou o "cabra fino" significa um prudente e providencial repente de consciência e uma auto avaliação instantânea de suas próprias palavras, pesando prós e contras das consequências do comentário.

O presidente Lula da Conferência LGBT está atento, lutando contra suas limitações e "fino" foi o menos prejudicial que lhe ocorreu naquele momento: aparentemente não feria politicamente nenhum grupo, a não ser os "finos", seja lá o que isso signifique.

Na verdade, no seu improviso, Lula preferiu afagar o ego de seus colegas machos em um comentário que buscou claramente conquistar a simpatia dos valentes operários insatisfeitos com uma crise que os tem obrigado a negociar férias coletivas, redução de salários para não engrossarem ainda mais esse imenso exército de "cabras machos" de reserva.

Os "cabras finos" que curem suas gripes na cama.


Camisinha sempre!







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