"É preciso ser muito macho para ser gay". A mulher
guerreira é o "homem da casa". Nesse mundo
"macho dominante", ao masculino, as virtudes.
Não existe um gay que não
seja um "cabra macho" desafiando a homofobia em nome de sua verdade,
seu prazer, seu amor. Se o macho continua sendo a referência, nós, gays, somos
o desafio ao gênero: amamos um igual. Rendemo-nos ao prazer do toque da pele,
sem simular repugnância ou nos sentirmos ameaçados diante de uma declaração de
amor e desejo vinda de outro homem. De qualquer jeito, um elogio masculino faz
com que o mais macho dos machos derrape em sua vaidade e sinta-se um garanhão,
superior, desejado. O reconhecimento de outro homem - um potencial rival -
infla sua vaidade e desperta seu poder de sedução.
A bagagem machista do
presidente Lula não é diferente. Durante discurso em Recife elogiou os
trabalhadores brasileiros comparando os "cabras machos", que seguram
a onda e não interrompem seu trabalho diante de uma gripe; aos "cabras
finos", que fraquejam diante de uma doença qualquer.
"Cabras finos"?
Diacho! Pode ser "fino" de magro, relacionando a estrutura franzina à
ausência de saúde, o que nem sempre procede. Com certeza não foi essa a
comparação presidencial. Não faria sentido a referência a "fino" de
finesse, requinte: qual a relação entre um homem requintado e o enfrentamento
de uma gripe "no batente"?
Pode ser então que o
"fino" tenha a ver com delicadeza, fragilidade, na medida em que os
brutamontes consideram que pessoas delicadas tendem a sucumbir facilmente ao
primeiro sinal de uma gripe.
A polêmica resvalou pela
homofobia e o "fino" do presidente Lula passou a ser interpretado
como uma alusão aos gays. Bem, talvez tenha sido mesmo, mas a sutil gaguejada
que acompanhou o "cabra fino" significa um prudente e providencial
repente de consciência e uma auto avaliação instantânea de suas próprias
palavras, pesando prós e contras das consequências do comentário.
O presidente Lula da
Conferência LGBT está atento, lutando contra suas limitações e "fino"
foi o menos prejudicial que lhe ocorreu naquele momento: aparentemente não
feria politicamente nenhum grupo, a não ser os "finos", seja lá o que
isso signifique.
Na verdade, no seu
improviso, Lula preferiu afagar o ego de seus colegas machos em um comentário
que buscou claramente conquistar a simpatia dos valentes operários
insatisfeitos com uma crise que os tem obrigado a negociar férias coletivas,
redução de salários para não engrossarem ainda mais esse imenso exército de
"cabras machos" de reserva.
Os "cabras finos"
que curem suas gripes na cama.
Camisinha sempre!
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