Que as igrejas condenam os gays e definem o comportamento homossexual como um pecado, não é novidade. Baseiam-se em textos apócrifos (textos que não fazem parte da Bíblia, cuja autenticidade é duvidosa ou suspeita), mais especificamente no livro de Levítico, em duas ocasiões. Numa delas, o livro nos condena à morte: “Se um homem se deitar com outro homem como quem se deita com uma mulher, ambos praticaram um ato repugnante. Terão que ser executados, pois merecem a morte” (Levítico, 20,13).
Extrair trechos desses livros e aplicá-los em situações dos dias de
hoje, entretanto, é no mínimo irresponsável. O mesmo livro, que na verdade
tentava estabelecer regras de comportamento para uma determinada época e
cultura, também condenava absurdamente, por exemplo, as pessoas que usavam
roupas feitas de dois tipos diferentes de material. Porém, a referência aos
homossexuais continua sendo interpretada ao pé da letra, atendendo aos
interesses daqueles que não conseguem conviver com a diversidade.
Apesar da insistência de alguns em misturar as coisas, continuo
relutando em discutir a homossexualidade sobre o prisma das religiões, uma vez
que estamos falando de direitos humanos, independente de crenças ou dogmas.
Em que pese a garantia do estado laico, lamentavelmente estamos
convivendo com uma força tarefa implacável de religiosos que tem se dedicado a
barrar toda e qualquer conquista LGBT, desde o simples reconhecimento da
utilidade pública de associações que lutam pelos nossos direitos, até
legislações que penalizem a discriminação ou criminalizem a violência
homofóbica. Como se não bastasse, a radicalização desses grupos tem desafiado a
ciência e colocado em risco a saúde da população.
Em recente visita à África, continente onde a AIDS atinge cerca de 40
milhões de pessoas, o papa Bento XVI afirmou que a distribuição de
preservativos não ajuda a controlar a epidemia. “Pelo contrário, eles aumentam
o problema´, afirmou.
A igreja católica historicamente tem se envolvido com doenças. Milagres
de cura são atribuídos a Jesus Cristo e sua história relata situações de
envolvimento com portadores de hanseníase, numa época em a doença não tinha
controle ou cura. Ainda hoje, encontramos sacerdotes que consolam enfermos e
freiras que se dedicam a serviços de enfermagem. Entretanto, recusam-se a
trabalhar a saúde na perspectiva de promoção de ações de prevenção.
A declaração impiedosa e irresponsável do Papa parece visar a manutenção
dos doentes como justificativa para sua vocação e valorização de seu papel
histórico, não importa a custa de que.
Camisinha sempre!
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