sábado, 18 de abril de 2009

Pinta - 18/04/09



Parece que elas são universais: tanto a pinta como a homofobia. Uma identifica-nos e nos revela. A outra nos agride e nos mata. Como um código secreto usado por quem se vê obrigado a se esconder num mundo hetero normativo, a pinta nos aproxima e faz de todos nós cúmplices dos segredos e mistérios que nos fragilizam. A pinta é um dos principais estopins da homofobia.

Nem todo gay é afeminado, mas todos dão pinta, principalmente quando estamos entre nós. É parte do nosso processo de comunicação, uma linguagem própria que desafia a rigidez machista, os códigos de gênero e se aventura na espontaneidade. A pinta possui personalidade própria: um jeito gay de ser, longe de uma vontade de se parecer mulher. Vai além da conhecida desmunhecada e inclui olhares, maneiras de virar o rosto, de falar e andar.

Gays se divertem dando pinta. Rimos de nossas tiradas irônicas, rápidas e originais. Exageramos nos gestos e corporificamos figuras imaginárias, com cabelos que não existem, corpos e sensualidade que revelam um bom humor contagiante, bem próximo daquele que faz com que bofes se divirtam travestidos no Carnaval.

Seja quando, em que cultura ou sob a influência que for: gays dão pinta do mesmo jeito, seja na Bósnia e Herzegovina ou na zona rural de Caratinga, passando por todas as etnias, raças e religiões. Todos adotam a mesma irreverência quando estão em seus pubs ou na intimidade dos encontros ocasionais que nos oferecem ambientes protegidos e exclusivos.

Afinal, como se propaga essa informação a ponto de influenciar o comportamento da maioria dos gays e dotar-nos de características que extrapolam a bagagem genética de nossos pais ou a formação cultural de nosso país?

Definitivamente não se trata de um processo de educação entre pares. Espanta a constatação de que o desconhecido gay japonês se comporte e divirta-se da mesma forma que eu. A pinta supera processos educativos formais e as referências macho-heterossexistas que recebemos.

A vantagem é que quando encontramos outro gay podemos nos valer dessa linguagem própria e estabelecermos uma conexão fraterna singular que, se por um lado não conhece fronteiras e nos diverte, por outro tem a capacidade de despertar reações violentas bem parecidas em todo o mundo.

Camisinha sempre!


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