Universidade. Universalidade. Totalidade. Palavras sinônimas que nos lembram uma das premissas básicas das instituições de ensino superior, principalmente as públicas: o acesso universal, a garantia de tratamentos iguais a todos e todas e, principalmente, o respeito às diferenças.
Vasculhando a memória, lembrei-me de um rapaz gay que dividia uma das inúmeras repúblicas de estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto e foi descoberto homossexual pelos colegas de alojamento. Passou a sofrer todo tipo de rejeição e, num extremo de humilhação, recebido no restaurante universitário com uma batucada de talheres, entre risos e deboches, foi obrigado a deixar o recinto.
Noutra ocasião, durante as calouradas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), centenas de estudantes pagavam prenda amarrados uns aos outros em fila indiana e - sujos, esfarrapados e pintados - eram conduzidos a pé até o centro. Em frente à sede do Movimento Gay de Minas, que ostentava uma belíssima bandeira do arco-íris, entoaram entre gargalhadas e vaias o corinho "Bicha! Bicha!", ofendendo os que estavam por lá.
Nesta semana, um futuro engenheiro esmurrou um estudante gay, aos gritos de "Veadinho! Bichinha!", na porta de uma das moradias estudantis da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Os vigilantes presentes sequer interferiram. Uma amiga tentou socorrer o rapaz e acabou sendo agredida. Liderada pelo Grupo Universitário em Defesa da Diversidade Sexual (Gudds!), uma grande mobilização fez com que a direção decidisse expulsar o rapaz da moradia e instalasse uma Comissão de Processo Disciplinar para analisar se ele deve deixar também a UFMG.
A homofobia ainda reside dentro dos muros das universidades. Os casos se multiplicam e partem de funcionários, professores, estudantes e muitas vezes das próprias instituições, que não reagem com a mesma prontidão da Federal de Minas. O sistema educacional não pode se calar no combate à homofobia. Sua passividade tem ajudado na formação de assassinos e na banalização dos crimes homofóbicos. Segundo dados do GGB, só em 2009 já foram apurados 40 assassinatos! Em 87 dias! Dia sim, dia não, um psicopata - quiçá, um universitário - mata um de nós.
É importante que as universidades federais respeitem as orientações do MEC, incluídas no programa "Brasil sem Homofobia" e ratificadas no I Conferencia Nacional LGBT, e ajam promovendo pesquisas, debates, portarias e normas internas que efetivamente combatam a homofobia. É preciso que avancem no cumprimento de seu papel universal.
Camisinha sempre!