sábado, 21 de março de 2009

YMCA - 21/03/2009



A nova campanha dos salgadinhos Doritos inclui um comercial que, por mais simples que pareça, carrega em suas entrelinhas umas das mais severas manifestações de menos-valia e preconceito que são a exposição, a ridicularização, a gozação, o chocho.

O comercial retrata uma viagem onde quatro rapazes se distraem ouvindo o hit "Y.M.C.A." no som do carro, quando o copiloto distraidamente repete a coreografia criada pelo grupo Village People que reproduz com os braços as iniciais da Young Man Chiristian Association (Associação Cristã de Moços) em linguagem de escoteiros, usada para comunicação à distância.

Os outros três (passageiros e motorista) ficam atônitos diante da distração do colega macho, que repentinamente se revela um conhecedor de um dos mais manjados ícones gays do mundo, repetido desde 1978 em todas as boates GLS e relembrado até hoje. Embasbacados, preparam-se para a gozação, quando entra violentamente uma arte da embalagem dos salgadinhos, esconde o rosto do "dançarino" e congela a cena com o slogan: "Quer dividir alguma coisa com os amigos? Divide um Doritos."

Ao dançar o YMCA, o que estaria sendo dividido? Seus sentimentos íntimos? É melhor dividir salgadinhos que sentimentos íntimos? O que revela a atitude do rapaz que dança o YMCA que não mereça ser dividido com os amigos? Que ele seja gay? É essa a mensagem: não conte para seus amigos que você é gay? Prefira dividir salgadinhos que sair do armário?

A agência Almap-BBDO, responsável pela criação do comercial, diz que a intenção não era essa. "Os filmes (da campanha) mostram justamente como todos já passamos por situações em que achávamos que estávamos sendo engraçados, mas na verdade estávamos pagando um grande mico", alegaram em nota.

No filme, entretanto, o rapaz não está se fazendo de engraçado. Ele está distraído, relaxado e deixa que algumas reminiscências venham à tona, sem prestar atenção.

Tudo isso me fez lembrar a minha adolescência no armário, quando, decidido a vencer essa orientação homossexual, passei a fiscalizar e ensaiar meus gestos e atitudes de forma a não dar bandeira com os amigos.

Sentia-me envergonhado quando deixava escapar, nas pistas de dança, exagerados passos da moda que com certeza me traíam e provocavam nos meus colegas reações parecidas com a dos companheiros do copiloto no comercial da Elma Chips.

Como muitos de nós, vivia tenso, atento, comedido e ensaiado, representando o papel de macho na pantomima do bullying nosso de cada dia.

Camisinha sempre!

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