A nova campanha dos
salgadinhos Doritos inclui um comercial que, por mais simples que pareça,
carrega em suas entrelinhas umas das mais severas manifestações de menos-valia
e preconceito que são a exposição, a ridicularização, a gozação, o chocho.
O comercial retrata uma
viagem onde quatro rapazes se distraem ouvindo o hit "Y.M.C.A." no
som do carro, quando o copiloto distraidamente repete a coreografia criada pelo
grupo Village People que reproduz com os braços as iniciais da Young Man
Chiristian Association (Associação Cristã de Moços) em linguagem de escoteiros,
usada para comunicação à distância.
Os outros três (passageiros
e motorista) ficam atônitos diante da distração do colega macho, que
repentinamente se revela um conhecedor de um dos mais manjados ícones gays do
mundo, repetido desde 1978 em todas as boates GLS e relembrado até hoje.
Embasbacados, preparam-se para a gozação, quando entra violentamente uma arte
da embalagem dos salgadinhos, esconde o rosto do "dançarino" e
congela a cena com o slogan: "Quer dividir alguma coisa com os amigos?
Divide um Doritos."
Ao dançar o YMCA, o que
estaria sendo dividido? Seus sentimentos íntimos? É melhor dividir salgadinhos
que sentimentos íntimos? O que revela a atitude do rapaz que dança o YMCA que
não mereça ser dividido com os amigos? Que ele seja gay? É essa a mensagem: não
conte para seus amigos que você é gay? Prefira dividir salgadinhos que sair do
armário?
A agência Almap-BBDO,
responsável pela criação do comercial, diz que a intenção não era essa.
"Os filmes (da campanha) mostram justamente como todos já passamos por
situações em que achávamos que estávamos sendo engraçados, mas na verdade
estávamos pagando um grande mico", alegaram em nota.
No filme, entretanto, o
rapaz não está se fazendo de engraçado. Ele está distraído, relaxado e deixa
que algumas reminiscências venham à tona, sem prestar atenção.
Tudo isso me fez lembrar a
minha adolescência no armário, quando, decidido a vencer essa orientação
homossexual, passei a fiscalizar e ensaiar meus gestos e atitudes de forma a
não dar bandeira com os amigos.
Sentia-me envergonhado
quando deixava escapar, nas pistas de dança, exagerados passos da moda que com
certeza me traíam e provocavam nos meus colegas reações parecidas com a dos
companheiros do copiloto no comercial da Elma Chips.
Como muitos de nós, vivia
tenso, atento, comedido e ensaiado, representando o papel de macho na pantomima
do bullying nosso de cada dia.
Camisinha sempre!
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