sábado, 14 de fevereiro de 2009

Coronéis – 14/02/2009



Gays estão sempre nos surpreendendo. Se às vezes é para o bem; outras nem tanto. Produtos da homofobia, desprovidos de direitos fundamentais como o de ser quem é, de sentir desejo e amar quem quiser, sempre encontramos aqueles que vencem, que superam essas desvantagens e chegam lá. E o que deveria ser motivo de orgulho para todos nós, muitas vezes se transforma em argumento para reforçar o nosso recolhimento e desestimular a luta pública e coletiva  pela comunidade LGBT.

Nessa semana me lembrei muito de um militante do movimento negro que foi convidado a assumir uma secretaria na administração municipal de uma cidade onde raramente as ações da Prefeitura se voltam para a garantia dos direitos humanos de seus cidadãos. Competente e engajado, não foi convidado a assumir o cargo por ser negro, mas pelo tanto que sua experiência poderia acrescentar nos objetivos traçados para as políticas sociais da cidade. Indiscutivelmente, sua nomeação fez com que houvesse uma aproximação saudável dos movimentos sociais com a Prefeitura e ninguém, nem o próprio secretário, se questionou se deveria deixar de fora, ou dar menos ênfase ao movimento negro, por ser negro. Os demais grupos não foram deixados de lado, mas a justiça da defesa das bandeiras dos afro descendentes finalmente se fez ouvir naquele espaço. O movimento negro teve as portas abertas, pode participar e combater com clareza as vulnerabilidades que o assola.

Lamentavelmente, esse comportamento é bem diferente quando se trata de alguns gays. Em contato recente com um desses vitoriosos, para nosso espanto, alem da ressalta inicial "não sou secretario porque sou veado", ouvimos essa semana de um gay assumido o triste argumento de que não seria ele a pessoa indicada para abrir as portas para os homossexuais, pois poderia ser interpretado como defensor de sua própria causa, de "puxar a brasa para sua sardinha". Nossas propostas foram recebidas com desconfiança e todos os argumentos contrários que julgávamos ter nos livrado por estarmos conversando com um gay, ganharam corpo e mais, legitimidade, pois partiu de um de nós. Tenho certeza que jamais ouviria um índio ou um negro em situação semelhante se recusar a ajudar o seu povo porque não fora nomeado por essa condição.

Do outro lado do Brasil, a situação não foi menos surpreendente e assistimos essa semana uma manifestação explicita de antigas táticas coronelistas serem colocadas em pratica por outro gay, exatamente quem deveria valorizar o novo e se esforçar para a promoção de mudanças. Diante da não aprovação de seu projeto num edital público, temeroso de ver exposta sua incompetência e perder o falso poder que mantêm atrelado a si um grupo de infelizes seguidores, buscou e encontrou formas de prejudicar aqueles que se saíram melhor que ele, numa lógica revanchista que reforça o bordão: se eu não consigo, ninguém mais vai conseguir. Esse comportamento dos já conhecidos coronéis-gays tem prejudicado muito o movimento LGBT nordestino, alem de fazer com que brilhantes pensadores daquela regiao tenham suas idéias sufocados e importantes passos deixem de nos levar adiante. Patético.

Para uma comunidade que não pode contar com seus membros quando estes chegam ao poder, que não consegue aplaudir a vitória do outro, que prefere nivelar por baixo e reinar entre os medíocres, os 40 anos de luta que comemoramos agora em 2009 terão que se multiplicar, pois nossos maiores inimigos ainda somos nós mesmos.

Camisinha sempre! 


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