Gays estão sempre nos surpreendendo. Se às vezes é para o bem;
outras nem tanto. Produtos da homofobia, desprovidos de direitos fundamentais
como o de ser quem é, de sentir desejo e amar quem quiser, sempre encontramos
aqueles que vencem, que superam essas desvantagens e chegam lá. E o que deveria
ser motivo de orgulho para todos nós, muitas vezes se transforma em argumento
para reforçar o nosso recolhimento e desestimular a luta pública e
coletiva pela comunidade LGBT.
Nessa semana me lembrei muito de um militante do
movimento negro que foi convidado a assumir uma secretaria na administração
municipal de uma cidade onde raramente as ações da Prefeitura se
voltam para a garantia dos direitos humanos de seus cidadãos. Competente e
engajado, não foi convidado a assumir o cargo por ser negro, mas pelo tanto que
sua experiência poderia acrescentar nos objetivos traçados para as políticas
sociais da cidade. Indiscutivelmente, sua nomeação fez com que houvesse uma
aproximação saudável dos movimentos sociais com a Prefeitura e ninguém, nem o
próprio secretário, se questionou se deveria deixar de fora, ou dar menos
ênfase ao movimento negro, por ser negro. Os demais grupos não foram
deixados de lado, mas a justiça da defesa das bandeiras dos afro descendentes
finalmente se fez ouvir naquele espaço. O movimento negro teve as portas
abertas, pode participar e combater com clareza as vulnerabilidades
que o assola.
Lamentavelmente, esse comportamento é bem diferente quando se
trata de alguns gays. Em contato recente com um desses vitoriosos, para
nosso espanto, alem da ressalta inicial "não sou secretario porque
sou veado", ouvimos essa semana de um gay assumido o triste argumento de
que não seria ele a pessoa indicada para abrir as portas para os
homossexuais, pois poderia ser interpretado como defensor de sua própria causa,
de "puxar a brasa para sua sardinha". Nossas propostas foram
recebidas com desconfiança e todos os argumentos contrários que julgávamos ter
nos livrado por estarmos conversando com um gay, ganharam corpo e
mais, legitimidade, pois partiu de um de nós. Tenho certeza que jamais ouviria
um índio ou um negro em situação semelhante se recusar a ajudar o seu
povo porque não fora nomeado por essa condição.
Do outro lado do Brasil, a situação não foi menos surpreendente e
assistimos essa semana uma manifestação explicita de antigas táticas
coronelistas serem colocadas em pratica por outro gay, exatamente
quem deveria valorizar o novo e se esforçar para a promoção de mudanças.
Diante da não aprovação de seu projeto num edital público, temeroso
de ver exposta sua incompetência e perder o falso poder que mantêm
atrelado a si um grupo de infelizes seguidores, buscou e encontrou
formas de prejudicar aqueles que se saíram melhor que ele, numa lógica
revanchista que reforça o bordão: se eu não consigo, ninguém mais vai
conseguir. Esse comportamento dos já conhecidos coronéis-gays tem prejudicado
muito o movimento LGBT nordestino, alem de fazer com que brilhantes
pensadores daquela regiao tenham suas idéias sufocados
e importantes passos deixem de nos levar adiante. Patético.
Para uma comunidade que não pode contar com seus
membros quando estes chegam ao poder, que não consegue aplaudir a
vitória do outro, que prefere nivelar por baixo e reinar entre os
medíocres, os 40 anos de luta que comemoramos agora em 2009 terão que se
multiplicar, pois nossos maiores inimigos ainda somos nós mesmos.
Camisinha sempre!
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