Tudo começa com um beijo. Um beijinho doce ou aquele beijo que eu
te dei e nunca, nunca mais esquecerei. Se o amor nos arranca do armário, o
beijo nos denuncia. Beijos inocentes, roubados no recreio, no pique-esconde, a
uva do "pêra-uva-ou-maçã". Beijos no bar, que nos desmascaram,
denunciam. Beijos necessários que chocam como se nos penetrássemos em público.
Língua com língua, num ato erótico, pornográfico. O beijo gay revolucionário,
político, nossa bandeira sem mastro e sem tecido. O beijo entre homens que
machuca como uma bala perdida, uma faca amolada, uma navalha na carne. Um gesto
doce e espontâneo que nos causa tantos problemas.
Um professor de inglês de Brazlândia (DF) foi afastado das salas
porque usou para ilustrar sua aula, uma música da cantora Katy Perry, onde ela
conta sua experiência de ter beijado uma outra garota numa festa: "Eu
beijei uma garota e gostei / Do gosto do seu batom de cereja".
Outro beijo mobilizou a comunidade LGBT de Salvador: dois jovens
que se beijavam no shopping Iguatemi foram expulsos pela administração. Os
homossexuais baianos decidiram protestar com um beijaço.
Quase diariamente duas meninas são expulsas do colégio, dois
rapazes do bar, dois homens expostos porque se beijavam no Carnaval, mais dois
agredidos na porta de casa. Sempre depois de um beijo.
Na TV, quem não se lembra de Clara e Rafaela, em "Mulheres
Apaixonadas", cujo "selinho" só foi ao ar porque uma delas se
vestiu de Romeu em cena com sua amada Julieta. Ou do não beijo entre Júnior e
Zeca de "América" insinuado entre olhares e penumbras. Beijos de
cinema, o beijo no asfalto, beijos manchetes de jornal, proibidos.
Foi por causa do beijo que a Lei Rosa, de Juiz de Fora, gerou
tanta polêmica. Nada incomodou mais nos quase vinte artigos da lei municipal de
maio de 2000 quanto a possibilidade de dois gays serem vistos se beijando na
rua. A lei deu à cidade mineira notoriedade no respeito aos direitos dos
homossexuais, mas o beijo ainda gera polêmica. "Como vou explicar para o
meu filho dois homens se beijando?", argumentam os contrários,
despreocupados em explicar a violência, as agressões, a corrupção à qual suas
crianças se expõem cotidianamente e cujo fundamento não é amor, nem afeto, nem
coisas tão simples de se explicar. São os que preferem ter um filho bandido a
um veado. Os que não se beijam e nem sabem se beijar.
Camisinha sempre!
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