sábado, 10 de janeiro de 2009

Orlandinho – 10/01/2009



E eis que João Emanuel Carneiro, autor de "A Favorita", decide pôr um personagem gay em sua trama, entregando a ele a responsabilidade de protagonizar o debate sobre a negação de sua própria homossexualidade, a homofobia internalizada, o assédio das mulheres sobre os homens gays, a paternidade, o sair do armário, o conflito familiar e mesmo as relações de fachada que servem para dar credibilidade à construção de um tipo que não é verdadeiro e se presta a satisfazer família e sociedade. Assuntos sérios demais para serem engraçados.
 
Existem gays assim? Sim, muitos. Principalmente mais velhos, criados numa época em que o movimento gay ainda não tinha ganhado as ruas e os homossexuais se escondiam atrás de disfarces que perduravam a vida inteira e que, muitas vezes, caíam por terra em descobertas escandalosas. Basta revirar um pouco o passado e com certeza virão à memória histórias de esposas que flagraram maridos em relações com outros homens e terminaram seus casamentos já falidos.
O caso do Orlandinho, entretanto, revela o quanto o autor perdeu uma excelente oportunidade de fazer um debate sólido sobre a questão. Começou localizando-o no núcleo cômico da novela: Orlandinho é uma caricatura de gay, tanto no seu jeito de falar e vestir, quanto em sua forma de demonstrar afeto. Nos primeiros capítulos é ludibriado pelo galã, um garanhão que desfruta (sem camisinha) de todas as prostitutas que moram em sua casa – na verdade um bordel dirigido por uma cafetina que o adota como filho. Halley, malandro bon vivant, finge ser gay, caricaturando ainda mais a construção do personagem, com a intenção de extorquir dinheiro do rico e ingênuo Orlandinho que, iludido, apaixona-se e vê sua vida sentimental se despedaçar quando percebe que o romance não passa de um golpe. O gay, então, para se manter próximo do seu amor, decide assumir a responsabilidade sobre a futura criança e casa-se com a rapariga e sua barriga.
A novela, que anuncia seus últimos capítulos, caminhou para o despertar de um sentimento entre Orlandinho e Maria do Céu, apesar do desejo sexual incompatível. O que temos assistido hoje é um Orlandinho perturbado, questionando seus desejos sexuais e cedendo a uma paixão incompreendida, onde o que menos importa é o que se passa – ou passará – com sua saúde sexual. Um Orlandinho que caminha para o despertar de uma relação heterossexual e que, para isso, no intuito de ressaltar sua transformação, vem sendo apresentado como um machão agressivo, possessivo, rude. Agora, sim, "curado", Orlando assume a postura de um troglodita, desejado por todas as prostitutas do bordel.
Camisinha sempre!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por deixar seu comentario.