Estamos diante de mais um novo desafio: descobrir outros modelos
de prevenção à Aids e às doenças sexualmente transmissíveis (DST) que tragam
melhores resultados. Foi com essa proposta que o Ministério da Saúde reuniu
essa semana em Brasília os membros da sua Comissão Nacional para ampliar os
debates sobre novas e eficientes ferramentas e ações de prevenção às DST-Aids.
O tema é providencial, uma vez que o Brasil ainda possui uma
epidemia concentrada, com prevalência alta em alguns grupos específicos,
submetidos às mais diversas vulnerabilidades. Entre estes, as trabalhadoras e
os trabalhadores sexuais, os usuários de drogas, os gays, as travestis e
transexuais. É urgente, portanto, se pensar em estratégias eficazes que
considerem novas dimensões da prevenção e que avancem além do binômio
informação-insumo, adotado desde o início da epidemia: e tome palestra, folheto
e camisinha.
A prevenção à AIDS precisa ir para além do preservativo. Assim
como são oferecidas aos casais várias ferramentas de contracepção, e cabe a
eles escolherem aquela que melhor vá se adequar às suas características – sua
forma de se relacionar sexualmente, suas predileções e seu planejamento
familiar –, os cidadãos e cidadãs brasileiros precisam ter opções de prevenção. Nesse
sentido, surge nos congressos e encontros internacionais uma tendência à
medicalização da prevenção, tendo como carro-chefe a circuncisão, os
microbicidas e as pílulas: da véspera ou do dia seguinte.
Os estudos sobre a circuncisão, já referendados pela ONU e pela
OMS, apontam para uma diminuição do risco de infecção da ordem de 60% em homens
circuncidados heterossexuais. Apesar disso, não está nos planos do Ministério
da Saúde, ampliar o oferecimento de cirurgias de retirada do prepúcio nos
homens e muito menos apresentar esse procedimento como substituto ao
preservativo. A redução de 60% não significa que o risco deixe de existir para
os circuncidados e os estudos por enquanto se restringiram às relações
heterossexuais, ou seja, transmissão da mulher para o homem.
Enfim, tudo aponta para a pluralidade, em que o discurso único do
uso da camisinha dê lugar a um rol de opções mais democráticas e também
eficientes. O discurso repetitivo do uso do preservativo tem perdido força e as
relações desprotegidas estão crescendo. Está claro que não poderemos ficar
eternamente apregoando o uso da camisinha, distribuindo gratuitamente,
incentivando os cuidadosos e condenando aqueles que não se adaptam ao insumo.
Os índices de pessoas infectadas não param de crescer e é importante que surjam
novos caminhos agora, antes que mudem as características da nossa epidemia.
Até lá, não nos restam muitas alternativas: o uso do preservativo
é a única forma eficaz de se prevenir contra o HIV. Portanto, camisinha ainda!