sábado, 4 de outubro de 2008

Um mimo – 04/10/2008


Os mais recorrentes problemas que atormentam os homossexuais estão no seio familiar. Ao contrário de outros grupos vítimas de preconceito, os gays, além de não contarem com o apoio de sua família, são vítimas de castigo – físico, muitas vezes – na idéia de que "esse menino precisa é levar uma surra para virar homem" – como se o fato de ser gay o fizesse menos homem ou como se uma surra mudasse a personalidade de alguém. São raras as famílias que compreendem a homossexualidade de um de seus membros e se unem solidariamente em sua defesa contra a homofobia.

Muitos pais ainda insistem em tratar a homossexualidade de seus filhos como uma atitude de desobediência, uma travessura que mereça um castigo para que não se repita. Muitos gays adolescentes ainda ficam sem suas mesadas, sem poder sair à noite, proibidos de se encontrar com seus amigos, de frequentar ambientes gays, ou, pior, de se apaixonar por pessoas do seu mesmo sexo – como se fosse possível proibir alguém de se apaixonar. Muitos meninos e meninas arcam com as consequências dessa visão rasa de que é possível forçar a reversão da homossexualidade e que isso se consegue com castigos.

Mas existem exceções. Existem famílias que respeitam as diferenças de seus membros e sabem valorizá-los independente de suas particularidades. O que importa é que as relações sejam estabelecidas com base no amor e no respeito mútuo.

Algumas vezes recebo notícias de comentários elogiosos feito por parentes e amigos que acompanham a minha trajetória. Pessoas que conhecem todo o processo de construção da minha, digamos, cidadania homossexual: da negação adolescente até a transformação em ativismo político e motivo de orgulho. Fico feliz de ver que essas pessoas conseguiram manter sua admiração por mim e não deixaram ofuscar minhas outras qualidades pela particularidade da orientação do meu afeto.

Recentemente, ganhei um mimo de presente. Um cachecol de lã que fora tecido em tricô pela tia Irene, lá de Caratinga, uma tia-avó querida, que, apesar de distante, dedicou seu tempo precioso a tecer um presente para mim. Durante alguns meses, povoei seus pensamentos e recebi um carinho a cada laçada, a cada fileira vencida. Finalmente, ela fez chegar a prenda em minhas mãos emocionadas.

Esse tipo de amor existe. É ele que vence os preconceitos e mantém coesa a instituição família que somos, muitas vezes, acusados de tentar destruir.


Camisinha sempre!

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