Os mais recorrentes problemas que atormentam os
homossexuais estão no seio familiar. Ao contrário de outros grupos vítimas de
preconceito, os gays, além de não contarem com o apoio de sua família, são
vítimas de castigo – físico, muitas vezes – na idéia de que "esse menino
precisa é levar uma surra para virar homem" – como se o fato de ser gay o
fizesse menos homem ou como se uma surra mudasse a personalidade de alguém. São
raras as famílias que compreendem a homossexualidade de um de seus membros e se
unem solidariamente em sua defesa contra a homofobia.
Muitos pais ainda insistem em tratar a homossexualidade de seus
filhos como uma atitude de desobediência, uma travessura que mereça um castigo
para que não se repita. Muitos gays adolescentes ainda ficam sem suas mesadas,
sem poder sair à noite, proibidos de se encontrar com seus amigos, de frequentar
ambientes gays, ou, pior, de se apaixonar por pessoas do seu mesmo sexo – como
se fosse possível proibir alguém de se apaixonar. Muitos meninos e meninas
arcam com as consequências dessa visão rasa de que é possível forçar a reversão
da homossexualidade e que isso se consegue com castigos.
Mas existem exceções. Existem famílias que respeitam as diferenças
de seus membros e sabem valorizá-los independente de suas particularidades. O
que importa é que as relações sejam estabelecidas com base no amor e no
respeito mútuo.
Algumas vezes recebo notícias de comentários elogiosos feito por
parentes e amigos que acompanham a minha trajetória. Pessoas que conhecem todo
o processo de construção da minha, digamos, cidadania homossexual: da negação
adolescente até a transformação em ativismo político e motivo de orgulho. Fico
feliz de ver que essas pessoas conseguiram manter sua admiração por mim e não
deixaram ofuscar minhas outras qualidades pela particularidade da orientação do
meu afeto.
Recentemente, ganhei um mimo de presente. Um cachecol de lã que
fora tecido em tricô pela tia Irene, lá de Caratinga, uma tia-avó querida, que,
apesar de distante, dedicou seu tempo precioso a tecer um presente para mim.
Durante alguns meses, povoei seus pensamentos e recebi um carinho a cada
laçada, a cada fileira vencida. Finalmente, ela fez chegar a prenda em minhas
mãos emocionadas.
Esse tipo de amor existe. É ele que vence os preconceitos e mantém
coesa a instituição família que somos, muitas vezes, acusados de tentar
destruir.
Camisinha sempre!
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