Adoraria acreditar que existe alguém que orienta os destinos.
Alguém capaz de mudar o rumo dos acontecimentos, o andar da carruagem, a linha
do tempo. Alguém a quem pudéssemos apelar para aliviar a nossa dor e que não
nos pedisse em troca tanta culpa e tanto sofrimento.
Eu pediria a ele para olhar em volta e perceber que existem seres
humanos doídos, machucados e que está difícil continuar com isso. O habitual
sorriso de nossos meninos e meninas está desaparecendo, especialmente naqueles
que amam outras pessoas do seu mesmo sexo ou naqueles que amam outras pessoas
que amam pessoas do seu mesmo sexo. O enredo vai do gay ao filho do gay, ao pai
do gay: o preconceito machuca todo mundo.
Hoje perdemos o Jorge. Um dos mais brilhantes jornalistas que
conheci. Jorge foi responsável por toda o processo de comunicação do MGM nos
últimos cinco anos. Aos 25 anos, Jorge Júnior era completo. Respirava
comunicação e tinha uma visão de militância rara. Um amigo doce, valente e
frágil ao mesmo tempo. Cansou de lutar. O fardo foi pesado demais.
Por que não pode esse senhor do destino reverter essa história e
trazer de volta o nosso super-homem, supergay, super-cidadão, superbacana
Jorge? Por que não redesenhar esse destino e dar ao Jorge um mundo sem
homofobia, a oportunidade de ter que resolver somente os problemas de um
cidadão standard?
Com certeza o Jorge ia brilhar, se amar, teria nos dado o prazer
da sua presença e melhorado esse mundo ainda mais.
Jorge era uma bicha fina, fashion, atrevida! Propunha sempre.
Jamais entregava aquilo que lhe pedia: sempre mais. Acrescentava. Fazia a
diferença! Jorge era o cara! Jorge Luiz da Silva Júnior é uma das mais tristes
perdas entre os homossexuais brasileiros nesses anos. Porque era jovem,
valente, talentoso e tinha ainda muito a nos mostrar.
Vítima da homofobia? Não acho que tantos casos de depressão entre
nossos jovens seja uma mera coincidência. Nossos meninos e meninas precisam de
atenção. Mesmo que a família aceite a homossexualidade de seus filhos, o
assunto não está resolvido.
A família não pode mais nos aceitar, ela tem que nos defender,
lutar conosco. É preciso que nossos pais, amigos e parentes estejam ao nosso
lado para evitarmos que esses jovens sofram tanto a ponto de buscar a solução
dos problemas no fim de si mesmos.
"Hoje, eu acordei e, quando me olhei no espelho, o que eu vi
não chegava a ser propriamente um rosto, era antes o reflexo de uma situação
difícil. Tipo o retrato de Cecília Meireles: eu não tinha essa cara assim"
(Jorge Júnior, http://100dramas.blogspot.com).