sábado, 22 de março de 2008
Mais que uma simples tristeza – 22/03/2008
Cresce a cada dia o número de jovens diagnosticados com depressão profunda ou com o moderno "distúrbio afetivo bipolar" que pode levar a crises severas. Meninos e meninas capazes, aparentemente bem, que de repente não suportam a pressão e têm o seu organismo quimicamente desequilibrado. Assim, sem aviso nenhum, pessoas amadas se distanciam da realidade resistindo às nossas amarras. Mudam de dimensão, confundem tempo e espaço, ultrapassam limites e se machucam injustamente.
Num dia, se refugiam num canto e irradiam uma melancolia triste, doída, contagiante; no outro, um estado de euforia cuja lógica se torna difícil de acompanhar. Momentos de fragilidade se intercalam com lampejos de segurança e poder. Ninguém sabe explicar, ninguém entende por quê.
E dói. Em todo mundo. Em nós, por estarmos envolvidos afetivamente com a pessoa, por solidariedade, e principalmente dói não poder fazer nada. Neles, é um sofrimento físico onde se desenrolam sensações como exaustão, desespero, injustiça, revolta, conformação, resignação. Atônitos, assistimos abrirem-se os parênteses na vida dessas pessoas para que encontrem novamente seus trilhos.
É preciso questionar nosso entendimento de diversidade e principalmente de normalidade. Diversidade abraça um universo muito maior do que imaginamos e precisamos ir além dos horizontes da nossa causa. É preciso entender que respeitar o outro não é impor a ele o nosso modo de vida, mas acatar o dele, seja na lógica que for. Temos imposto aos nossos jovens esse mundo que está aí sem sequer ouvi-los, convidá-los a colaborar na sua construção. São eles que detêm as alternativas para novos modelos de relações e formas de se reavaliar esse mundo, porque essa não está dando muito certo.
Uma vez, um amigo, irmão de um portador de síndrome de Down, confidenciava comigo certos momentos em que se pegava olhando para o irmão e questionando o nosso direito – dele inclusive – de forçar sua saída do seu mundo e impor àquela pessoa tão pura, tão cidadã, a nossa realidade, essa que chamamos de normal. A partir daí, percebi que a diversidade não se encontra só na cor da pele, no gênero, na orientação sexual, na compleição física ou no status geracional, mas alcança também as maneiras de se relacionar com o universo, suas diferentes lógicas e funções orgânicas.
Segundo a Federação Mundial de Saúde Mental, estima-se que de 10% a 20% da população de crianças e adolescentes sofram de transtornos mentais. Desses, 3% a 4% necessitam de tratamento intensivo. No Brasil, cerca de 5 milhões de brasileiros têm problemas considerados graves pela psiquiatria. Um décimo dos brasileiros maiores de 12 anos é dependente de álcool e de drogas ilícitas. Pesam também nas demandas à saúde pública, questões relacionadas à crise urbana, como a violência e o mal-estar cotidiano que provocam angústias e desamparo.
Próximo de 1 milhão de pessoas cometem suicídio anualmente, no mundo. No Brasil, todo ano, cerca de 10 mil brasileiros suicidam-se e poderiam estar vivos caso houvesse uma detecção precoce e o tratamento apropriado de doenças mentais associadas ao suicídio, como esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar. Um de cada três indivíduos que comete uma tentativa de suicídio é homossexual ou bissexual.
Dados como esses devem ser encarados pelo Ministério da Saúde que, além de definir ações de prevenção para essas doenças, deve estar atento aos hospitais psiquiátricos que ainda acreditam na eficácia da violência e desconsideram os direitos do cidadão em estado de sofrimento mental.
Camisinha sempre!
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