sábado, 12 de janeiro de 2008

Fervura na nossa sopa – 12/01/2008


Estive em Brasília, participando de mais uma das reuniões preparatórias para a I Conferência Nacional LGBT, que acontecerá ali, de 9 a 11 de maio de 2008. Antes, porém, entre fevereiro e abril, todos os estados da federação deverão realizar suas conferências estaduais. O nosso não foge à regra e o governador Aécio Neves deverá convocar a de Minas Gerais a qualquer momento.
Além da Associação Brasileira de Gays (Abragay), entidade que presido desde 2005, participam da Comissão Organizadora da Conferência, outras tantas entidades, perfazendo 36 representantes de organizações lésbicas, transexuais, travestis, jovens, afros, a ABGLT – associação que congrega todos esses segmentos, e mais os representantes do governo: a Presidência da República e os Ministérios, todos coordenados pela Secretaria Especial de Direitos Humanos. É ela a responsável pela coordenação da Conferência, além de ser o órgão executivo à frente de todo o processo de sua construção.
Tarefa árdua! Reuniões intermináveis, nas quais o jogo político se torna real e, na mesa, interesses dos mais diversos, disputas de poder e de espaço. Pela lógica, de um lado estaria o poder público e todo o seu leque de comprometimentos, as pressões, e a necessidade de se combater a homofobia e propor um Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT, como consta entre os objetivos da Conferência. Do outro lado da mesa, estaria a sociedade civil e seu papel reticente de controle social, cobrando o compromisso do governo e orientando cada ação, cada palavra, cada expressão.
Mas, não é bem assim. As disputas acontecem e se tornam acirradas entre nós, gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais. Segmentos que conseguem se sub segmentar e criar facções que não se entendem e disputam entre si. Tudo é motivo de contestação e até mesmo desconfiança: o que está por trás disso que estão falando? Onde estão ganhando com isso? Que vantagens estão levando?
E o que antes era um processo de construção de políticas públicas para uma população sofrida e desrespeitada, o que deveria ser um momento de se pensar nas propostas e nos documentos que deverão ser apresentados, debatidos e aprovados na Conferência, se torna palco de disputas entre nós mesmos.
O que une gays e lésbicas, por exemplo, é sua orientação sexual voltada para pessoas do nosso mesmo sexo: mulheres que se atraem por mulheres e homens que se atraem por homens. O que nos diferencia, na essência, é que somos homens e mulheres. Pois é exatamente para aí que se dirige o nosso foco. E, de repente, homens gays estão disputando com mulheres lésbicas. Eles, acusados de machistas, chauvinistas e pouco generosos com as mulheres lésbicas; elas, acusadas de tentarem tirar proveito de sua condição de mulher para angariar vantagens políticas. Nem todos; nem todas, claro.
Travestis e transexuais travam (sem trocadilho) uma batalha muda, perdidas entre os gêneros, "descolocadas". Reivindicam sua inclusão nas cotas de representação das mulheres – e nos banheiros femininos, nas conferências das mulheres, nos programas do SUS, afinal, representam mais uma das várias manifestações do que vem a ser feminino.
Um dos mais acirrados momentos, porém, foi a discussão do critério que será adotado para a escolha dos delegados na I Conferência. Apesar de termos conseguido garantir a participação paritária de homens e mulheres, ficou claro que alguns grupos ainda entendem o movimento LGBT como uma arena para a disputa entre as várias letrinhas que compõem a nossa sopa.
O processo de construção da I Conferência Nacional LGBT tem levantado a poeira da disputa entre os segmentos. Temos que estar atentos e não deixar que o que deveria nos unir se torne tão facilmente uma ferramenta de separação. E fazer da nossa Conferência Estadual um exemplo.
Camisinha sempre!

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