sábado, 6 de outubro de 2007

A Homoguerrilha urbana – 06/10/2007



Não consigo me esquecer da alegria e do orgulho com que divulgamos os dados sobre violência nos primeiros anos do Rainbow Fest, evento aberto ao público que reúne multidões em torno da causa GLBT em Juiz de Fora/MG: nenhuma ocorrência, nenhuma briga, nenhuma violência. O retrato que sempre procuramos: um evento de paz, onde todos são bem-vindos, independente de nossas diferenças. Aliás, o respeito à diversidade sempre foi o nosso mote maior.
Mas, se por um lado conquistamos o acolhimento daqueles que conseguem vislumbrar a justiça da nossa luta, se rompemos os armários e deixamos de nos esconder, também a homofobia ganha holofotes e sai da escuridão para se mostrar nua e crua. A violência contra os homossexuais, velha conhecida nossa, passa a ser pública e reconhecida por todos.
Existem grupos – formais e informais – que elegeram os homossexuais como seus inimigos e têm plantado violência e desrespeito onde nos encontram, muitas vezes disfarçados sob o manto do "amor fraterno e caridoso que a todos acolhe"; outras, fundamentados em atitudes não tão sublimes, como a violência homofóbica.
De uma forma ou de outra, as agressões são o código básico de comunicação e poder desses grupos. Para uns, o fundamento é a força física, o loteamento do território urbano, a afirmação do machismo e da superioridade do bicho homem. Grupos que não sobrevivem sem o confronto e que se justificam no inimigo: o dia que ele não existir, perdem seu sentido e sua razão de ser.
Outros, adotam a violência psicológica que se traduz no condicionamento, no desrespeito, na inversão de valores. Virtudes que deveriam ser incentivadas e comemoradas, como a honestidade, coerência, autenticidade e a capacidade de amar dão lugar a pregações desumanas que incentivam a infelicidade, o fingimento, a desonestidade e desqualificam não só a nossa capacidade de amar como o nosso próprio amor.
Quem é o mais violento? Aquele que bate e machuca o corpo ou aquele que tortura e condiciona a mente? Aqueles que cercam e impõem suas ideias na força bruta ou aqueles que cercam e impõem suas ideias através da propagação de sentimentos como culpa, obediência e insignificância? Aquele que bate para roubar e se apoderar de seus bens ou aquele que o condiciona a aliviar essa culpa entregando "espontaneamente" parte do fruto do seu trabalho?
Somos acusados de impor à sociedade o nosso jeito de ser pelos mesmos que querem impor a nós o seu. Somos diagnosticados doentes por aqueles que se julgam detentores de nossa cura e do nosso remédio. Temos sido taxados de pecadores exatamente por aqueles que nos oferecem o perdão, desde que nos unamos a eles e nos submetamos à sua visão de mundo.
Presenciamos hoje uma intensa cruzada religiosa contra os homossexuais que acena com o retrocesso e a negação de nossos direitos humanos básicos, como o de ser quem somos. Vemos ameaçados direitos adquiridos a partir do fortalecimento do nosso movimento, como as leis municipais e o reconhecimento oficial de nossos eventos. Fortificados por um exército obediente e mobilizado, os evangélicos têm se dedicado a fazer de cada lugar onde se conversa sobre homoafetividade uma praça de guerra sem regras, onde o nome de Deus tem servido de munição para as armas utilizadas contra nós.
Enquanto existir alguém que se considere superior, que busque a imposição de suas ideias, que se julgue detentor da verdade e da solução dos problemas da humanidade, teremos confronto. Pontos de vista diferentes devem ser respeitados e só o convívio com a diversidade solidifica a democracia. O movimento gay continua acreditando na paz e na convivência harmônica entre todos. Mesmo que essa não seja a visão dos nossos antagonistas.
Camisinha sempre!

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