Dia 10 de junho inicia-se oficialmente a temporada de Paradas do Orgulho GLBT em nosso país. Começando pela maior do mundo, a de São Paulo que, no ano passado mobilizou perto de 2 milhões de pessoas, embaladas por mais de 20 trios elétricos, entre eles o já famoso trio Gay de Minas, organizado pelo MGM.
Ainda pouco compreendidas, as paradas compõem o repertório clássico de manifestações de rua que passam pelas mais diversas estratégias e características próprias.
No Brasil, tudo começa no Carnaval. Em fevereiro/março, os foliões tomam as ruas para festejar o reinado de Momo, e ocupam as cidades com batucadas e o canto alegre de quem precisa extravasar suas angústias acumuladas durante o ano inteiro. Três dias de folia "para tudo se acabar na quarta-feira…"
Logo depois, nossas ruas são tomadas pelas procissões católicas da Semana Santa. Enfileirados, portando velas acesas, fiéis de terços e véus e se deslocam atrás de seus santos, conduzindo- os com seus cânticos religiosos, desfilando sua fé pelas cidades, entre orações e louvores.
Em setembro, é a vez dos militares desfilarem seu poder pelas ruas. Marchando em cadência, perfilados em harmonia, representantes das forças militares comemoram a data da Independência do Brasil sob o ritmo das bandas marciais, hinos oficiais, bandeiras e uniformes.
Eventualmente, outros grupos tomam as ruas. Passeatas de protestos, greves e reivindicações são comuns, organizadas conforme o seu próprio código. Palavras de ordem, carros de sons, faixas, panfletos e discursos calorosos, bandeiras partidárias, sindicais, panelas e apitos compõem o cenário das passeatas que tanto influenciam os grandes momentos da história do Brasil.
As Paradas do Orgulho GLBT também possuem o seu jeito próprio. A primeira parada do mundo aconteceu num domingo em Nova York, em 28 de junho de 1970. A March on Stonewall ou Stonewall Riots marcava o primeiro ano dos conflitos ocorridos no Bar Stonewall Inn, que em 1969 havia sido palco de uma verdadeira batalha por direitos entre homossexuais e a polícia norte-americana.
No ano seguinte ao conflito, cerca de 15 mil homossexuais se concentraram em Greenwich Village e marcharam até o Central Park, iniciando a construção de um movimento de reivindicação e garantia de direitos humanos da população GLBT que se espalharia por todo mundo.
No Brasil, as paradas do orgulho adquiriram um desenho próprio e expandiram-se a ponto de termos hoje, em São Paulo, a maior Parada GLBT do mundo, reunindo 2 milhões de pessoas na capital paulista, em 2006.
Em 2006, no Brasil, foram realizadas 112 paradas nos mais distantes municípios, mobilizando próximo de 5 milhões de pessoas em todas elas.
A segunda maior parada brasileira está no Rio de Janeiro (500.000 pessoas) e a maior parada de todo o interior do Brasil acontece em Juiz de Fora, MG, reunindo 100 mil pessoas em 2006.
A ideia de que as paradas são um "Carnaval fora de época" realmente só serve para reproduzir a falsa imagem de que os homossexuais não são sérios. Entender a nossa forma de manifestação cívica como uma algazarra pública é negar a diversidade e impor um padrão à multiplicidade cultural do nosso país.
O simples fato de nos mostrarmos como cidadãos homossexuais, nas ruas, sob a luz do sol, de manifestarmos nosso afeto em público, de exibirmos toda nossa irreverência e alegria já cumpre um dos principais objetivos das paradas: o maior movimento nacional de visibilidade massiva se propõe a tirar do gueto e dos armários sufocantes uma população que tradicionalmente se esconde para ser aceita; se nega para sobreviver num mundo que insiste em nos negar.
Participe das paradas. Vista sua roupa de domingo e vá para as ruas. Se você é homossexual, liberte-se e mostre a sua cara. Se você não é, apóie e sinta como é interessante um mundo desprovido de preconceitos.
Camisinha sempre!