sábado, 19 de maio de 2007

Todo gay é… – 19/05/2007


Com frequência sou convidado a falar sobre homossexualidade em escolas, universidades, associações, e costumo começar perguntando se conhecem ou têm algum amigo gay. São poucos os que dizem sim. Geralmente as mulheres, ou os alunos homossexuais que afirmam seu si", felizes pela rara oportunidade de ouvirem sua sexualidade sendo abordada ali, na sala de aula, no seu ambiente. É sempre um prazer identificá-los. As pessoas em geral conversam pouco sobre a homossexualidade.
Raras são as famílias que abordam o tema de uma forma educativa, séria e inclusiva, sem termos pejorativos ou estereótipos. Se você não é homossexual, não tem amigos ou parentes ou pessoas homossexuais no seu círculo de relacionamento, esse assunto raramente entra em pauta.
A importância de se dar visibilidade ao tema homossexualidade, de uma forma respeitosa, inclusiva, responde à quebra de um ciclo que reproduz os preconceitos e que precisa ser interrompido.
As poucas informações que circulam vêm da mídia ou do lugar comum que, na nossa sociedade, significa informações repletas de homofobia. É importante que circule o outro lado da moeda, o lado cidadão, o ponto de vista da diversidade para fazer frente a tudo que aprendemos de errado.
E as pessoas vão achando que "todo gay é…" Como eu escuto isso! Revela uma visão dos gays como um grupo homogêneo, o que, definitivamente não somos. Importa saber, além disso, que visão é essa. E, normalmente, é aí que mora o problema:
"Todo gay é um homem que não deu certo". Precisamos entender que todo gay é homem que tem desejo homossexual, mas continua sendo homem. São poucos os que revelam ter vontade de ser mulher. Esses, geralmente possuem uma identidade de gênero diferente do seu sexo de nascimento. São as travestis ou as transexuais.
"Todo gay é promíscuo". Gays não reagem diferente de heterossexuais às provocações eróticas que nos rodeiam. Fotos, filmes, roupas provocantes, corpos expostos provocam nos gays exatamente as mesmas reações que provocam nos heteros. Mais em uns homens, menos em outros, independente de sua orientação sexual. Gays são educados no mesmo ambiente que os homens heterossexuais e possuem os mesmos limites. Mas, não são todos iguais, claro.
"Todo gay é escandaloso". Alguns são escandalosos. Outros tímidos a ponto de se enrubescerem. Alguns reagem escandalosamente aos olhares discriminatórios, numa forma de agressão reativa. Outros se fecham e se escondem. Exatamente como os heterossexuais. Diga-se de passagem, nem todo gay é covarde, e nem todo gay é ruim de briga, ou de bola se é que isso referencie algum homem.
"Todo gay é jeitoso". Ou é cabeleireiro, decorador, envolvido de alguma forma com moda ou profissões que estejam mais ligadas ao universo feminino (existe isso?). Realmente, não temos como negar que as mulheres temem menos os gays que os homens. O nível de homofobia entre as mulheres é bem menor e o universo feminino nos recebe melhor. Mas existem gays completamente desajeitados e incapazes de pentear seu próprio cabelo, assim como existem os gays médicos, advogados, pedreiros, pintores, lixeiros, metalúrgicos, motoristas…
"Todo gay é inconveniente". Não é difícil entender que homens heterossexuais são objetos de desejo não só das mulheres, mas também dos gays. E homens tomam a iniciativa. Heteros abordam as mulheres; gays, os homens, sejam gays ou heteros. Homens heteros precisam parar de se ofender com a abordagem de um gay. Ninguém tem sua orientação sexual estampada no rosto. Nada mais civilizado que reagir a uma cantada entendendo-a como um elogio. Imagine se fosse natural reagir sempre com um soco. Todos os homens estariam apanhando, independente de sua orientação sexual.
"Todo gay é engraçado". Alguns de nós são mesmo bastante engraçados. A maioria porém, não tem muitos motivos para rir ou ser engraçada. Não dá para generalizar.
"Todo gay é inteligente" ou "todo gay é burro". Nem santo, nem demônio. Homossexuais estão tão sujeitos aos erros do nosso sistema educacional, à falta de acesso às informações, aos parcos recursos que os possibilitem desenvolver seu potencial intelectual como qualquer outro cidadão brasileiro.
"Todo gay é doente de Aids". Quanta gente ainda pensa assim! Quantos heteros ainda se expõem ao vírus, às práticas sexuais desprotegidas por acreditarem que Aids é doença de gay. Quanta gente está se infectando, infectando seus parceiros, por não entender que, se a Aids foi detectada primeiro entre os gays, não significa que ela é uma doença dos gays. Ela é uma doença da humanidade com toda a sua diversidade e todos estamos expostos a ela.
Existem gays doentes de Aids, existem heteros doentes de Aids. E existe a camisinha que é o único jeito de nos protegermos e a quem amamos.
Camisinha sempre!

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