sábado, 5 de maio de 2007

O Papa não é bem-vindo para todos – 05/05/2007




Bento XVI desembarca no Brasil quarta-feira, dia 9 de maio. Anunciada desde setembro de 2006, sua vinda é esperada com ansiedade pela mídia e pelos católicos, mobilizando um estupendo aparato de marketing que insiste em impor uma adoração a esse papa estranho, carente de carisma, longe do povo, distante da necessidade de renovação que as religiões, de uma forma geral, clamam.
Algumas posições das Igrejas já não atendem mais os anseios de seus fiéis. Pais católicos estão cansados de condenarem e assistirem a condenação de seus filhos homossexuais pela Igreja. Estão cansados de viver em conflito quando usam ou recomendam o uso da camisinha a seus filhos e filhas. Estão revoltados por serem colocados na posição de pecadores por encontrarem seu grande amor num seu segundo casamento. Tem faltado uma posição progressista às religiões que proponha sua adequação às novas necessidades da vida moderna.
Talvez por minha formação católica, sempre entendi como obrigação dos seres humanos fazer o melhor uso possível das dádivas que receberam nessa vida, seus talentos, usando-os para a promoção do bem coletivo e o progresso de todos. Nesse sentido, sempre espero daqueles que possuem o dom da liderança, aqueles que falam para multidões e possuem o poder do convencimento, uma atitude de avanço, de idéias novas, de transformações que promova o fim das injustiças e preconceitos.
Talvez por isso, nunca me convenci do discurso conservador e obediente do padre Marcelo, por exemplo, presença constante na mídia, figura pública, adorado, seguido por multidões, mas que nunca trouxe nada de novo, nunca defendeu sequer suas posições pessoais e jamais propôs avanços significativos na instituição a que pertence.
O que dirá o papa.
Entendo que não podemos tratar a Igreja como um bloco homogêneo, mas as vozes daqueles que são as forças progressistas nas religiões estão caladas.
Reconheço que existem os aliados, aqueles que distribuem camisinha, mesmo contra a vontade da cúpula da igreja; que abençoam a segunda união de seus fiéis, mesmo contra seus superiores; que apóiam ou são homossexuais e estão no quadro das igrejas sofrendo todo tipo de privação de seus desejos em nome de uma vocação, ou se rebelando, vivendo seus desejos homoafetivos e homoeróticos nas sombras, sem segurança, sob os olhares embaçados de seus bispos ou suas paróquias.
Mas esses aliados estão parados. Não se nota nenhum tipo de pressão para reverter a posição da sua Igreja.
Tímido, talvez temendo enfrentar esses aliados-calados, o movimento GLBT não conseguiu sensibilizar-se em torno de uma grande mobilização nacional que demonstrasse sua insatisfação com as posições conservadoras e adversárias do Papa, por ocasião de sua visita ao Brasil. Existe uma grande preocupação em não ofender, em não conquistar a antipatia da grande maioria da população brasileira e, principalmente, do grande número de católicos- amigos-progressistas que pertencem à igreja, mas que sempre estão do nosso lado nas lutas contra a AIDS, contra as injustiças sociais, pelo meio ambiente, pelo direito a terra, etc.
Os amigos, entretanto, não podem nos calar. As posições do Vaticano e seu chefe têm legitimado, senão autorizado e incentivado a violência contra os homossexuais  a homofobia. A Igreja persiste em combater e negar o direito das mulheres sobre seus corpos e o poder de decisão sobre a interrupção de uma gravidez não desejada. Insiste em condenar o uso do preservativo e acaba dificultando o enfrentamento de uma epidemia que cresce a cada dia, principalmente entre os jovens, vitimando também seu rebanho de fiéis.
Nossos amigos progressistas católicos, a quem o movimento teme ofender, não têm se sentido ofendidos quando o chefe de sua igreja nos ataca e nega os nossos direitos.
Bento XVI nos desrespeita, promove a condenação dos homossexuais e nos coloca na condição de anormais, subcidadãos a quem se julga no direito de tutelar, indicando o que é certo ou errado para nós. Bento XVI condena o nosso amor.
E quando manifestarmos nossa indignação com isso, não estaremos desrespeitando seu líder ou seus valores. Com certeza nossos aliados saberão entender e apoiar nossa indignação manifesta.
Camisinha sempre!

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