sábado, 28 de janeiro de 2012

Suicidas - 28/1/2012


De certa forma, começamos a questionar nossa existência - e a possibilidade de eliminá-la, quando percebemos que nascemos diferentes da norma predominante. Quando constatamos nosso interesse pelos meninos e não pelas meninas, somos condenados e passamos a cumprir a penitência imposta pela nossa homossexualidade. Imediatamente, consideramos a possibilidade de por fim a esse sofrimento. A grande maioria dos LGBT já considerou a possibilidade de se matar como solução aos problemas e às dores geradas pela homofobia.

Por que eu nasci assim? Por que sou diferente dos meus colegas? Por que eu não consigo ter os mesmos desejos que eles? Eles zombam de mim por quê? O que eu fiz de errado para ser castigado com essa sina que tanto me expõe, incomoda e entristece? Por que eu não acabo de uma vez com isso? Por que eu não me mato? Essas perguntas povoaram as mentes de muitos de nós durante grande parte de nossa infância e adolescência.

Mantemos-nos vivos por coragem - ou covardia. Coragem de enfrentarmos a homofobia; covardia diante da decisão irreversível de por fim à luta contra a exposição e o deboche de nossas diferenças. E a cada dia em que nos mantemos vivos, a cada batalha que enfrentamos e sobrevivemos, acumulamos méritos que só fazem sentido para nós mesmos. Vivos, somos aqueles que chegaram até aqui e enfrentaram barreiras diante das quais muitos valentões fraquejariam.


Somos os sobreviventes de nós mesmos. Fomos obrigados a vencer nossas próprias artimanhas, enquanto o inimigo jogava sujo e nos internalizava a homofobia, corroendo-nos por dentro e nos levando a odiar aquilo que somos e que não podíamos ser.

Em abril de 2011, a Universidade de Columbia publicou um estudo que revela preocupantes estatísticas sobre suicídios entre jovens. A pesquisa, que entrevistou 32 mil jovens do Oregon, mostra que lésbicas, gays e bissexuais adolescentes têm até cinco vezes mais chances de se matarem do que seus colegas heterossexuais. Outro estudo, conduzido pela Universidade do Estado da Califórnia, mostrou que jovens rejeitados por sua família por serem LGBT têm 8,4 vezes mais chances de tentarem suicídio. Os motivos mais comuns que os levam a esse extremo são a consciência de sua atração homossexual, a rejeição de sua orientação sexual para familiares e amigos, ou o abuso verbal, maus-tratos e violência física em decorrência da homofobia.


Camisinha sempre

sábado, 21 de janeiro de 2012

Estupro - 21/1/2012



Um cidadão gay entra na padaria. É abordado por uma mulher, que lhe pede ajuda para carregar suas compras até o carro. O gay não se furta à gentileza. Ali, é surpreendido por três homens, que o obrigam a entrar, levam-no para um lote, o humilham, machucam, estupram e extravasam suas taras mais perversas. Satisfazem seus prazeres enquanto a mulher fotografa a cena, documentando ao vivo os detalhes da violência sexual. Três homens e uma mulher contra um jovem de 19 anos, castigado por ser homossexual.

O que está por trás desse caso? Que maldito ritual é esse a que o rapaz foi submetido? Qual a intenção dessas fotos? A que servirão? Quem são esses bandidos e por que arquitetaram um plano para violentar o jovem cabeleireiro gay?

Enquanto isso, circulam pela internet vídeos com rituais neopentecostais, nos quais pastores deturpam aos brados nossas intenções, negam nossos direitos e legitimam o fanatismo dos que se propõem a fazer valer a justiça divina com suas próprias mãos. Debocham, fazem graça com nosso comportamento, são irônicos e provocam o desrespeito contra nós.

Afinal, querem que nos rendamos à sua visão de mundo? Que nos comportemos como se comportariam ou acham que deveríamos nos comportar? Que abramos mão de nossas escolhas, nossos direitos e nossas concepções de vida e adotemos as suas? Ou só querem se sentir vitoriosos?

Não existe diferença entre o prazer que almejam padres e pastores quando abrem guerra contra os gays e sonham nos ver derrotados, subjugados ao poder de suas crenças e alijados de nossa sexualidade e os quatro bandidos que violentaram o rapaz de Juiz de Fora. Ambos se julgam no direito de nos castigar pelo nosso comportamento. Os bandidos dos templos nos condenam ao fogo do inferno e nos oferecem o perdão mediante o arrependimento e a submissão. Os bandidos da vida real nos ferem, nos matam, nos querem submissos e condenados ao medo de sermos o que somos.

O fio da meada do estupro de Juiz de Fora está nos templos, no fanatismo, nos equívocos das religiões. Está nas famílias que não se conformam com seus entes gays e que usam a violência como castigo corretivo. Está na falta de uma educação formal que combata a homofobia, de uma segurança pública eficiente, ágil e imparcial. Está na falta de atividade dos órgãos de promoção e defesa dos direitos humanos, submetidos ao poder dos votos evangélicos e ao puritanismo hipócrita dos conservadores.

Camisinha sempre!

sábado, 14 de janeiro de 2012

O papa - 14/1/2012




O papa Bento XVI se reuniu, no início da semana, com o corpo diplomático acreditado no Vaticano. Além dos alertas sobre as ameaças à paz mundial e as crises econômicas internacionais, ele se mostrou preocupado com a educação dos jovens e apontou algumas diretrizes e condicionantes.

Seu discurso surpreende em algumas partes. Segundo o chefe da Igreja Católica Romana, hoje com mais de 1,3 bilhões de membros em todo o mundo, a melhor maneira de avançar na educação dos jovens é "através do reconhecimento da dignidade inalienável de cada pessoa humana e de seus direitos fundamentais". Surpresa ao ouvir o papa falar em avanços, enquanto chefia uma instituição que se recusa a avançar em conceitos fundamentais como o planejamento e os novos arranjos familiares. Evidente que sua santidade e sua equipe não consideram como fundamental o direito à livre orientação sexual e condenam ao celibato qualquer um que não se enquadre no padrão reprodutivo heterossexual.

O papa alerta para a necessidade de algumas definições no processo educativo, entre elas, o conceito de família, "fundada sobre o matrimônio de um homem e uma mulher". Assim, a Igreja reafirma sua campanha internacional contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que, já há algum tempo, materializa-se em protestos e mensagens aos governantes e legisladores de todo o mundo.

Em seu discurso, o papa ressalta que a família "não é uma simples convenção social, mas, sim, a célula fundamental de toda sociedade. Consequentemente, as políticas que minam a família ameaçam a dignidade humana e o futuro da própria humanidade", completou.

Bento XVI, além de orientar as bases para uma educação católica em todo o mundo, reforça para a Igreja o papel de orientadora das bases educacionais. "A Igreja Católica sempre foi particularmente ativa no campo da educação, ao lado das instituições estatais. A minha esperança é que essa contribuição seja reconhecida e valorizada também pela legislação de várias nações", salientou.

Existe o temor de que os católicos educadores infiltrados no poder se deixem levar por essa tentativa de cada vez mais misturar o que são crenças religiosas com políticas públicas. Isso só divide, exclui e polemiza.

Camisinha sempre!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Efeminados - 7/1/2012


Alguns de nós nascemos efeminados, ou afeminados, com uma natureza mais suave, muitas vezes, refletindo-se no próprio corpo, em traços mais delineados, lábios grossos ou gestos delicados. Os efeminados são rejeitados desde cedo e convivem com a equivocada relação entre feminilidade e homossexualidade. Apesar de os gays se mostrarem menos presos às amarras dos padrões de comportamento masculino, existem homens naturalmente efeminados e nem por isso orientados sexual e afetivamente para as pessoas do seu mesmo sexo. 

O comportamento efeminado se destaca entre os gays, independe de fronteiras e se espalha pelo mundo inteiro. Entre nós, existem aqueles que realmente procuram se fazer femininos, por um desejo latente de se comportar como as mulheres. Outros, simplesmente, são o que são e não veem motivos para se enquadrarem às expectativas dos outros. 

A mais nova polêmica trazida à tona pelo antropólogo Luiz Mott foi a lista de conselhos aos gays para promoverem uma imagem positiva dos homossexuais e colaborarem para a desconstrução dos estereótipos que nos perseguem. Mott recomenda que gays se comportem abertamente como gays, que revelem sua homossexualidade sempre que possível e rebatam informações equivocadas sobre o tema; que sejam solidários e defendam-se uns aos outros; que namorem e manifestem carinho em público, notadamente diante das novas gerações, para que se habituem a novos arranjos afetivo-sexuais. 

Quando o professor recomendou que se "adote postura, poses e gestos que revelem a olho nu que é homossexual", a polêmica se instalou e o assunto se esvaiu para a feminilidade, entendendo-se que ela se confunde com a afetação tão familiar aos gays e tão revolucionária à medida que desafia o machismo e constrói um novo jeito de ser homem: a "pinta". 

O assunto desperta paixões e divide opiniões entre os que sonham com gays heterossexualizados que não exponham sua orientação sexual quando a seu lado, e os que se sentem rejeitados por sua feminilidade e defendem seu direito de ser natural. Seja como for, a iniciativa, nos moldes das campanhas inglesas "promote homosexuality", busca reverter a ideia de que a apologia da homossexualidade seja ruim. O que é bom. 

Camisinha sempre!