Uma semana atribulada para quem acompanha o noticiário sobre a
violação dos nossos direitos. Seguindo aquela lógica esquisita de que quanto
mais direitos conquistamos mais o preconceito se mostra, pudemos acompanhar
pela mídia pelo menos duas situações em que ele esteve exposto, desta vez
contra as lésbicas.
No Rio de Janeiro, durante o
desfile de um bloco carnavalesco no Leblon, um senhor de 50 anos que
participava da festa se incomodou ao ver duas mulheres se beijando. Diante da
cena, imbuiu-se de seu equivocado espírito de moralidade e considerou-se no
direito de exigir que alguns soldados encarregados da manutenção da ordem e
prevenção de furtos e brigas naquele festejo interrompessem a manifestação de
carinho das jovens. A intromissão dos policiais despertou a revolta da turma
que estava por ali, e o tumulto foi acabar na delegacia com um policial ferido
e dois foliões presos por desacato à autoridade.
O moralista tentou se
explicar: chamou a polícia porque entendeu que uma das mulheres era menor de
idade. Sequer percebeu que, enquanto isso, ali mesmo, dezenas de menores
heterossexuais se beijavam sem despertar a mesma indignação preconceituosa.
Fica claro que a idade das jovens foi uma desculpa esfarrapada na tentativa de
se livrar de um eventual processo por lesbofobia, o que somente seria possível
se o preconceito contra os homossexuais já tivesse sido criminalizado. Ainda
não foi: o enrolado PLC 122 continua vagando pelo Congresso Nacional, sob fogo
cruzado dos senadores e deputados evangélicos. No final, as jovens foram
liberadas com a garantia do delegado de que "beijar não é crime".
Já na terça-feira, o babado
foi na televisão, e a mineira lésbica Angélica "Morango" foi retirada
do "Big Brother Brasil 10" com 55% dos votos de mais de 70 milhões de
telespectadores, que escolheram manter no páreo o lutador homofóbico Marcelo
Dourado. O bofe, que ameaçou até agredir Angélica, tornou-se o contraponto à
presença dos três homossexuais na casa global. De certa forma, os votos dos
telespectadores se dividiram entre os que apoiam a diversidade e aqueles que
aplaudem a postura arrogante e intolerante de Dourado.
A maioria das opiniões
manifestadas naquela edição do programa foi contra a lésbica, apesar do
argumento de que nem todos os votos que retiravam a "colorida" do
"BBB" eram de pessoas homofóbicas. Seguramente, mesmo aqueles que se
justificaram por uma antipatia pessoal ou outro motivo qualquer tiveram seus
critérios aferidos a partir da homofobia social, essa que se encontra tão
naturalizada na nossa cultura que as pessoas sequer a reconhecem.
Camisinha sempre!