Nessa semana, o Exército brasileiro e os gays entraram em rota de colisão. De novo. Desta vez, a homofobia foi protagonizada pelo general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho, candidato a uma vaga no Supremo Tribunal Militar. O general respondia a indagações dos senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Eduardo Suplicy (PT-SP), durante audiência na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Segundo ele, "a vida militar pode não se ajustar ao comportamento desse tipo de indivíduo", referindo-se aos gays. O general Cerqueira acha que nós não nos adequamos a certas atividades próprias aos militares e que não seríamos obedecidos pela tropa. Ao seu lado, o almirante Álvaro Pinto tentou suavizar e, ao melhor estilo "don’t ask, don’t tell", repetiu o discurso, que é o retrato da hipocrisia das Forças Armadas norte-americanas, combatida diretamente pelo presidente Barack Obama. Segundo o almirante solidário, se o gay ferir a ética, for indigno, ele é contra, indicando um rigor corporativista próprio dos machos dominantes que dispensam investigações sobre ética e dignidade de seus semelhantes. E quem fala em ética e dignidade é quem nos oferece, como alternativa, o armário da mentira e do fingimento.
Essa visão de que gays são
menos homens do que os heteros tem a mesma origem que a menos-valia atribuída
às mulheres pelos mesmos inseguros-mal-resolvidos dominantes. O mesmo machismo
que as considera incapazes atinge os gays em declarações homofóbicas como a de
Cerqueira Filho, que pejorativamente nos rotula de "mulherzinhas",
dando à expressão o peso do preconceito contra o que não é homem e hetero. Como
se a nossa orientação sexual determinasse nossa coragem, bravura, liderança,
ética e dignidade.
Para nossos militares, gays
são incapazes de defenderem a nação ou serem vitoriosos em caso de guerras ou
quando a situação exige coragem e altivez. Uma inversão de valores que aplaude
a violência e vangloria quem é bravo e acredita na obediência em detrimento da
adesão. Homem hetero só obedece homem hetero. Fica claro que Cerqueira Filho
jamais se submeteria ao comando de uma mulher.
Em 2008, os sargentos Laci
Marinho de Araújo e Fernando Alcântara foram vítimas da "bravura" do
Exército quando assumiram, na capa da revista "Época", sua estável
relação amorosa. Os militares gays foram vítima de toda espécie de retaliação e
enfrentam processos que se arrastam nos tribunais militares. Hoje, além de suas
atividades, dedicam-se a dar apoio a jovens que sofrem o mesmo tipo de
preconceito nas Forças Armadas, ou fora delas, através de uma ONG dedicada ao
assunto, em Brasília.
Recente pesquisa do
Ministério da Saúde sobre comportamento, atitudes e práticas sexuais revelou que
9,9% dos jovens brasileiros entre 15 e 24 anos já tiveram relações sexuais com
pessoas do seu mesmo sexo. Em outra pesquisa, realizada na fila do alistamento
militar com 35 mil conscritos do Exército nacional, 3,2% dos entrevistados
enfrentaram o constrangimento homofóbico do Exército e responderam já ter se
relacionado sexualmente com outros homens. Pelos critérios dos militares, a
cada nova pesquisa reduzimos mais as possibilidades de encontrar quem comande
as tropas.
Camisinha sempre!
excelente artigo. eu gostaria de inclui-lo em meu blog, a despeito de sair da temática do mesmo.
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