No Brasil, em 2009, foram mais de 150 paradas do orgulho e eventos de
promoção da cidadania LGBT. De certa forma, a temporada começa com São Paulo e
se estende pelo resto do ano. Uma das últimas a acontecer tem a cor de cacau
que brilha na pele, cabelos negros que espetam da testa e amêndoas que saltam
dos olhos curiosos, ariscos, precisos. Dia 20 de dezembro, acontece a quarta
Parada do Orgulho Gay de Oiapoque, Amapá, no topo do Brasil, fronteira com a
Guiana Francesa.
Oiapoque é formada por um conjunto de ruas em torno de uma praça que vem
a ser um campo de futebol de areia e um terraço com quiosques de madeira onde
se bebe cerveja, se ouve música brega e se paquera. Misturam-se prostitutas,
garimpeiros, índios, franceses e natureza, no meio de chuva, floresta e
liberdade. Ladeando a praça, o Palace Hotel, onde a travesti Lady faz as honras
da casa. Requintada, trata a todos por senhor ou senhora e não se furta a
rebuscar no atendimento, mostrando que sabe o quanto isso ali é contraste. As 6
da manhã, Lady já nos recebe para o café no salto, na seda ou no tailleur. Um luxo
que nasceu em Uberlândia e veio aportar no topo do Brasil, sabe-se la a procura
de que. Lady se trata na terceira pessoa e não se intimida em falar de si:
"a Lady sabe muito bem o que está por baixo dessa roupa".
Na outra ponta está o Luciano (Silva, que ninguém conhece: pergunte pelo
Luciano Totalflex). Técnico em Patologia Clínica que nunca exerceu a profissão,
é o dono de uma banca de Tacacá, comida típica paraense que faz sucesso na
cidade e garante sua subsistência. É ele que está a frente do GGLOF - Grupo de
Gays e Lésbicas do Oiapoque e Fronteira, responsável pela organização da Parada
e pelas ações de prevenção as DST-AIDS com os gays da cidade. Esse ano levam
uma mensagem de prevenção: o HIV desconhece as fronteiras legais e encontrou
ali mais uma porta de entrada no país. A Parada termina num delicioso
campeonato de Queimada disputado entre os times de lésbicas, gays, heteros e
quem quiser se organizar.
Luciano me conta que os índios convivem e respeitam seus homossexuais. O
índio gay abandona a família e monta sua oca separada, onde recebe seus
companheiros. Normalmente, eles se relacionam entre si, mas, em geral, ainda
resistem ao uso do preservativo. Muitos tem deixado suas aldeias para estudarem
em Oiapoque e são vistos em grupos dando uma pinta na praça.
O GGLOF se orgulha dos avanços que já conseguiu na cidade: ninguém vai
te molestar na rua se perceber que você é gay; nem te incomodar na boate: ela é
de todos. Ninguém vai te agredir se você atravessar a praça de mãos dadas com
seu namorado. Isso é que é Brasil!
Camisinha sempre!
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