sábado, 11 de julho de 2009

Muito prazer! - 04/07/09


A cada dia, estamos nos apresentando às pessoas. Aquele que amamos ontem não é o mesmo de hoje e, tampouco, será o de amanhã. Nossas relações mudam, novos pontos de vista são explorados e vamos nos metamorfoseando como consequência de tanta informação. Ao invés de "bom dia", devíamos dizer "muito prazer" a cada manhã ou a cada encontro com quem já conhecemos há anos. E se a cada minuto somos diferentes, renovamos incessantemente nossas conquistas e reestabelecemos os pactos de nossas relações a cada instante.

Minha mãe amanhã completa 75 anos e me faz pensar quantas vezes vivemos esse processo e quantas pessoas diferentes já significamos um para o outro. Ninguém no mundo viveu tantas relações diferentes comigo. Desde quando eu significava somente a notícia de uma surpresa que crescia na sua barriga até quando nos vimos pela primeira vez, matamos a curiosidade e passamos a nos encantar um com o outro: eu com seu rosto jovem de quem derrama ternura e aconchego; ela, com a minha aparência de bebê de cinco dedos em cada mão, tão frágil e dependente, ávido para absorver seu leite, seu amor e sua consciência.

Foi com ela que aprendi a amar outras pessoas e, graças a esse desprendimento, conquistei o direito de me transformar rumo a um sujeito melhor, que acredita num mundo menos doído do que esse que ela viveu nos últimos 75 anos. Minha mãe guarda memórias do período da guerra, das revoluções, de mudanças radicais dos hábitos ou transformações não tão rápidas, que começaram antes dela nascer e que ainda estão em curso.

Como tantas mulheres, venceu medos e preconceitos, muitas vezes sem opção, e viu-se diante das mais extremas situações, que vão dos dramas e conflitos familiares a acidentes inimagináveis, quando vividos por uma só pessoa: uma das poucas que pode nos contar o que é sobreviver a um acidente de avião, ou como fazer para se reerguer das cinzas a partir de um incêndio em sua casa. São 75 anos de surpresas e percalços que atestam a qualidade de seu coração resistente e seu positivismo reticente.

Hoje, passa as tardes remexendo suas memórias, enquanto borda diante da televisão e revive sua epopeia de desafios vencidos a cada minuto nesses últimos três quartos de século. Machucada pela evolução dos costumes, vitoriosa em suas lutas internas, repleta de cicatrizes no corpo e na alma, essa mulher de 75 anos ainda é capaz de soltar um sorriso largo e se emocionar com as lembranças de uma canção do passado.

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