sábado, 6 de dezembro de 2008

Divisão – 06/12/2008



Existe um movimento LGBT no Brasil que se organiza, alcança a mídia de massa e tem suas vitórias e derrotas pautadas pelos principais jornais do mundo. São notícias que chegam à população às vezes como fatos bizarros, rebeldias inconseqüentes, afronta aos costumes, ou outras como um reflexo evolutivo do respeito à diversidade. Poucas vezes, entretanto, o movimento LGBT está na mídia como uma força política que disputa espaços (ou uma arena onde forças políticas disputam espaços). O jogo político do nosso movimento, apesar das disputas acirradas, não alcança – ou não interessa ao cidadão comum, não-LGBT. Muitas vezes não interessa nem aos próprios homossexuais.
Mas, ele existe e o nível das rusgas internas – que se concretiza na conquista de cargos e representações – chega a situações extremas que desafiam a ética e o interesse coletivo. Muitas vezes, o objetivo se resume ao acesso privilegiado às informações, à participação nos processos de decisão que, na verdade, facilitarão o caminho aos recursos orçamentários governamentais destinados à população LGBT. Recursos pífios, se avaliada a nossa participação no orçamento global, mas significativos quando vistos sob o prisma das organizações que estabelecem convênios e executam o que caberia ao governo. Migalhas que têm nos mantido sob controle e levado à desunião, dividindo-nos entre os que se submetem e os que não; entre os que se calam e os que gritam.
 
O retrato disso pode ser visto no 13º Encontro Brasileiro LGBT, realizado em Porto Alegre, entre os dias 28 e 30 de novembro, quando se reuniram associações e redes nacionais, além de representantes das ONG e militantes autônomos interessados nessa luta. O próprio Encontro esteve em questão: de um lado, vitoriosos na votação final, os que o consideram ultrapassado para ser um momento de deliberação do movimento e que atribuem esse poder aos encontros específicos das redes e associações nacionais independentes. Perderam aqueles que defendiam o Encontro como o momento legítimo de convergência de idéias e base para as ações das redes nacionais e suas especificidades.
 
Lésbicas, travestis e transexuais há anos já realizam seus próprios encontros e possuem suas instâncias de decisão. Homens gays estarão se reunindo pela primeira vez em 2009, puxados pela Abragay, o que deverá reforçar essa tendência e pulverizar ainda mais um movimento já tão pouco solidificado. 

Como pano de fundo, percebe-se uma tentativa clara de se atrelar o movimento LGBT ao controle de partidos políticos. O resultado já pode ser visto: em Porto Alegre ficou patente a divisão de um movimento que ainda possui aqueles que assumem um silêncio comprometido em troca de apoio para precários financiamentos de projetos.
 
Camisinha sempre! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por deixar seu comentario.