Para muitos casais gays, final de ano é sinônimo de problemas. As
árvores de Natal que enfeitam nossas reuniões de família ainda são decoradas
com indiscrições, censuras, homofobia. É época de decisões importantes e
radicais, confrontos, posicionamentos que provocam avaliações do que aconteceu
durante todo o ano, senão durante toda a vida. Época em que muitos casais
homossexuais solidificam o seu amor ou se deixam fraquejar diante das pressões
familiares.
Final de ano convida a sair do armário. Emoções à flor da pele,
corações abertos, muitas vezes revelam que chegou a hora de contar para quem a
gente ama nossos segredos. É quando se agiganta essa necessidade incontida de
ser mais verdadeiro, de deixar o escuro e buscar a luz, de se expor de dia,
respirando fundo um sentimento que somente quem passou anos de sua vida negando
sua identidade conhece. É o alívio do resgate de nós mesmos.
Natal em família é coisa de brasileiro. Parentes distantes,
pessoas que não se vêem há muito tempo, convidados especiais. Um reencontro
intenso que nos obriga a reconhecer velhos conhecidos. Novos pontos de vista de
antigos personagens que carregam na bagagem da saudade histórias, dores e
alegrias cotidianas. Na intimidade crua do convívio repentino e emotivo do
final de ano, revelam-se surpresas boas e ruins. São expectativas que muitas
vezes se frustram diante de um comentário na hora errada, uma saia-justa, um
deboche, um veneno.
Festas de final de ano servem para nos lembrar o quanto amamos e
somos amados por nossos parentes e o pouco que nos dedicamos a eles. Mas também
nos trazem reencontros que preferiríamos dispensar e situações embaraçosas que
poderiam ser perfeitamente evitadas. Assim, é nessa ocasião que se afloram as
críticas, os preconceitos e a franqueza que agride e machuca. Todo gay tem uma
história triste de fim de ano para contar.
São inúmeras as famílias que não aceitam nossas famílias gays.
Quantos casais homossexuais passam seus natais separados como alternativa para
poderem estar ao lado de pais, irmãos, sobrinhos. Quantas vezes já nos vimos na
tenebrosa e novelesca situação de optar: "ou ele ou eu", divididos
entre dois amores que resistem em se relacionar.
Final de ano é referência de tempo. E o mesmo tempo que machuca
cura as feridas. Haverá um dia em que não precisaremos lutar para sermos
aceitos como uma família. Diferente, mas que também monta sua árvore de Natal e
se emociona com as mensagens de final de ano.
Camisinha sempre!
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