sábado, 14 de junho de 2008

Stonewall – 14/06/2008



Nunca pensei que pudesse ser assim. Normalmente, apesar de bastante tocado pela emoção, lugares bonitos ou marcantes me deixam feliz, mas não me recordo de ter me emocionado tanto, nem quando conheci outros lugares famosos do mundo. Mas, quando desci do metro na Cristopher Street, em Manhattan, e virei a direita, uma sensação diferente tomou conta de mim.

Ainda não eram 9h quando tudo isso aconteceu e, claro, todo o comércio daquela região estava fechado, mas as bandeiras com as cores do arco íris estavam ali, indicando que não havia errado o caminho. Caminhei alguns quarteirões e, de repente, estava diante do famoso Stonewall Inn, um charmoso bar da cidade de Nova York, cenário do nascimento do movimento gay em todo o mundo, 39 anos atrás.
Fiquei ali parado, estático, emocionado, procurando o melhor ângulo, imaginando tudo que havia lido a respeito sobre aquele 28 de junho de 1969, quando gays, lésbicas e travestis se confrontaram com a polícia norte-americana, acostumada a humilhar e extorquir os donos dos bares gays nessa cidade. Pequeno, sem nenhum atrativo maior, estampa seu nome manuscrito num letreiro em néon vermelho, na vitrine que fora destruída pelos policiais durante o confronto, agora recuperada. Só depois me dei conta que, exatamente em frente, numa agradável pracinha ainda fechada aquela hora (Stonewall Place), um grupo de trabalhadores da prefeitura limpava as quatro estátuas que representam dois casais de gays e lésbicas em homenagem ao ocorrido.
Fiquei caminhando pelas redondezas ate as 14h, quando o bar abriu e pude sentir a atmosfera do lugar, por dentro. Tree, o proprietário de 69 anos, memória viva dos acontecimentos, me recebeu com carinho e quando disse que era brasileiro, se derreteu. Ele visita o Rio de Janeiro anualmente, durante o Carnaval, fala alguma coisa de português e não se furtou a responder as minhas perguntas em detalhes.
Sem aviso, a polícia chegou e decidiu identificar os freqüentadores do bar. Prenderam duas travestis, mas deixaram o cadeado do camburão destrancado. Um grupo, então, soltou as duas e os policiais reagiram agredindo um transexual de bigode, lembrou. A partir dai, os gritos de "Gay power" e "We want freedon" tomou as ruas, os jornais e o mundo. Foram 12 presos naquele dia, entre eles o cantor Dave Van Ronk, que passava por ali.
Tudo isso é muito recente e ainda está vivo na memória daquelas pessoas. Enquanto conversávamos, outros clientes gays e lésbicas se aproximaram para ouvir a história e sentir o mesmo orgulho que todos nos comemoramos, no mundo inteiro, no dia 28 de junho.

Camisinha sempre!

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