sábado, 4 de agosto de 2007

Gay desde menino – 04/08/2007


A homossexualidade começa na infância? Como pode um inocente que sequer sabe o que é sexo ser rotulado de homossexual, ou heterossexual, ou bissexual, ou qualquer coisa que o valha? Ninguém sabe, ninguém entende, mas todos registram a experiência de observar uma criança conhecida e decretar: "hum… esse aí, sei não…"
Conheci a Margarida através de minhas atividades profissionais. Separada do marido, vivia com o filho de nove anos. Um dia, vencendo suas barreiras, me contou que seu filho era gay. Um garoto lindo, com os cabelos loiros lisos e pesados, ágil, alegre e muito afeminado. Reconheceu a homossexualidade do filho aos 7 anos e de lá para cá vinha convivendo e trabalhando isso. Revelou que, assim que percebeu as características do filho, procurou ajuda de um psicólogo. Para minha surpresa, não para ele, mas para ela.
Inteligente, percebeu que não havia absolutamente nada de errado com a criança, que simplesmente era diferente no seu desejo e jeito de ser. O problema estava nela, que não se sentia confortável e capacitada para lidar com aquela situação. Ela não sabia como ser mãe de um filho gay. Margarida aprendeu a vencer seus preconceitos para facilitar a vida de seu filho. Interessava-se pelo mundo gay, procurava se aproximar e fazer amizades conosco, preocupada em encontrar uma forma de educá- lo de acordo com suas características próprias e não conforme seus sonhos maternos egoístas.
Margarida não tinha em casa um filho hetero e não pretendia criar um cidadão para viver dentro do armário. Temia muito que seu filho fosse obrigado a mentir sobre seus desejos e afeto e assim conseguiu criar um cidadão homossexual consciente de seus direitos, de sua forma de amar, feliz, pleno e verdadeiro. Nem todas as mães são Margaridas na vida. As histórias de jovens sendo expulsos de suas casas por serem gays ou lésbicas ainda nos chegam com freqüência. Meninos e meninas que se vêem alijados de ferramentas e conceitos norteadores importantes para a construção do seu caráter. Jovens que, sem muitas alternativas, sobrevivem submetendo-se a todo tipo de exploração e desamparo.
Crianças e adolescentes gays são vítimas de violência sexual com muita freqüência. A impunidade e a dificuldade de um acolhimento seguro da família ou dos órgãos de segurança pública fazem com que muitas dessas feridas sejam cicatrizadas à base de lágrimas quentes e solitárias. O registro de suicídios de jovens homossexuais é duas vezes maior que entre os hetero.
Como se não bastassem as seqüelas psicológicas, existem estatísticas assustadoras que apontam um crescimento de mais de 100% da participação dos jovens gays no cenário da Aids. Em 1998, 18% dos homossexuais infectados tinham entre 13 e 19 anos. Esse número salta para 40% em 2005 e a tendência de crescimento permanece.
É preciso que o recorte da orientação sexual não seja ignorado por aqueles que desenvolvem trabalhos com crianças e adolescentes. É preciso que o assunto seja encarado com seriedade, sem preconceito, sem medos e que a homossexualidade de jovens e crianças não seja jogada pra debaixo do tapete.
Crianças gays precisam se entender possíveis de forma que o esforço que despendem tentando dissimular seus desejos seja melhor aplicado no reforço de sua auto-estima e seus valores morais.
Camisinha sempre! 

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