Não tem sido muito boa a acolhida do poder público de Belo Horizonte à Parada do Orgulho GLBT da cidade. A Parada é um evento cívico e, assim como no resto do mundo, merece ser tratada com mais respeito e atenção.
No último domingo, 22 de julho, uma multidão se aglomerou na praça Sete, convocada para participar da nossa 10ª Parada. Pessoas que saíram de suas casas para mostrarem- se orgulhosos de sua condição homossexual na cidade em que vivem. Ou de suas cidades, para participarem da Parada da capital. Milhares de pessoas dispostas a saírem da invisibilidade e lutarem pelos seus direitos, demonstrando seu amor diferente.
Mas, a Parada quase não aconteceu. O Corpo de Bombeiros tentou a todo custo impedir que os carros de som fossem para a Afonso Pena. Inflexíveis, condicionaram a saída dos carros ao cumprimento de algumas normas tão restritivas que inviabilizam qualquer evento em logradouros públicos no nosso estado. Pelo volume de pessoas previsto, exigiam cem brigadistas de incêndio e quatro ambulâncias com pelo menos um médico e dois enfermeiros em cada uma delas. Nem no Mineirão em dia de Atlético e Cruzeiro…
Não parece estranho o Corpo de Bombeiros exigir da organização do evento que disponibilizasse uma brigada com cem pessoas? Onde existem cem pessoas preparadas para situações de emergência no combate a incêndios senão no Corpo de Bombeiros? A quem recorremos quando precisamos montar um esquema de segurança contra incêndios senão ao Corpo de Bombeiros?
A Parada do Orgulho GLBT é uma manifestação popular, uma passeata e, como tal, prevista no código de posturas da cidade que diz que "a realização de passeata ou manifestação popular em logradouro público é livre, desde que não haja outro evento previsto para o mesmo local; tenha sido feita comunicação oficial ao Executivo e ao Batalhão de Eventos da Polícia Militar de Minas Gerais, informando dia, local e natureza do evento, com, no mínimo, 24 (vinte e quatro) horas de antecedência; e não ofereça risco à segurança pública."
A Parada é um evento pacífico e os índices de violência são próximos de zero, portanto, os riscos são menores que aqueles previstos em eventos de multidão. Cumpridas essas exigências de agendamento e comunicados aos órgãos competentes, o evento é livre para acontecer. Cabe à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros fazer com que a segurança pública seja garantida e não impedir um evento, como aconteceu domingo.
Se a Parada exigia interdição de trânsito, o Batalhão de Trânsito estava lá para interditá-lo de forma a garantir que não houvesse risco para os participantes. Se existia risco de brigas, a Polícia Militar estava lá, garantindo a integridade física dos presentes. Se existia risco de incêndio, o Corpo de Bombeiros deveria estar lá, dimensionado de acordo com as previsões e a experiência de quem lida com o assunto. Não foi o que vimos.
O que se viu na Parada foi uma inversão de competências, aliadas à falta de bom senso e, principalmente, à homofobia dos encarregados do Corpo de Bombeiros que, insatisfeitos com a presença dos homossexuais na ruas, acabaram por ser os principais responsáveis pelos riscos a que foi submetida a multidão de gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e heterossexuais que estavam na Praça Sete no domingo.
Camisinha sempre!