sábado, 7 de julho de 2007

Família: último refúgio? – 07/07/2007


A princípio, é a família que nos acolhe nos momentos em que o mundo inteiro está contra nós. Recentemente, vimos pela televisão dois pais, em situações opostas, encararem a difícil tarefa de, diante das câmeras, defenderem – ou não – seus filhos. De um lado, o pai da doméstica agredida na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, indignado pela selvageria a que sua filha foi submetida. Do outro, o pai de um dos jovens agressores, inconsolado, perdido, tentando encontrar um apoio, uma razão, algo que pudesse usar para diminuir a ignorância do ato do rapaz e minimizar a reação pública contra ele.
Ambos acolheram seus filhos e protegeram-nos, seja para que a Justiça fosse feita e os responsáveis punidos, de um lado; seja para que ela não fosse tão rigorosa e desse uma nova chance ao jovem classe média, do outro. Família é assim: tem um olhar condescendente. Ou pelo menos deveria ter.
Na minha casa, quando jovem, me lembro de ouvir com insistência, principalmente nos momentos em que, por um motivo qualquer, nos colocávamos contra nossos pais e ao lado dos amigos: "Um dia, quando te faltarem os amigos, será a família que te acolherá".
O que temos percebido é que existem condições para esse acolhimento que passam, necessariamente, pelo enquadramento do jovem aos anseios de seus pais, o que nem sempre acontece. Filhos gays são até aceitos, desde que deixem de sê-lo (como se isso fosse possível), não se comportem como tal, escondam seus desejos, enfim, que deixem de ser autênticos e atendam às expectativas de seus pais heterossexuais. Que finjam ser quem não são, que simulem amar quem não amam, que abram mão de valores como a honestidade, sinceridade, coerência, para serem aceitos.
Ainda hoje, encontramos rapazes e moças em sérias dificuldades, expulsos de casa ao revelarem sua homossexualidade. Renegados pela família, as soluções que a cidade lhes oferece não resolvem muito: a prostituição para sobreviver, as drogas para esquecer e a violência para extravasar. Sem orientação, tornam-se jovens mal-educados sexualmente, frágeis diante das ameaças urbanas, vulneráveis diante da AIDS e da violência.
Que família é essa que se coloca como o derradeiro apoio e não apóia? Quando assistiremos na TV um pai indignado com a violência homofóbica contra seu filho? Quando veremos o pai de um gay buscando bases para defender um filho infrator sem responsabilizar sua homossexualidade por isso?
Um jovem negro quando chega em casa se queixando por ter sido discriminado encontra apoio de sua família: seus pais e irmãos são geralmente negros como ele e solidários na dor do racismo. Entretanto, quando isso acontece com um jovem gay, sua família lhe vira as costas, envergonhada de sua homossexualidade e do seu jeito de ser.
Então, se a família, o último e incondicional refúgio, se nega a acolher esses jovens homossexuais, quem assumirá essa tarefa?
Camisinha sempre! 

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