sábado, 21 de julho de 2007

Será que ele é? – 21/07/2007


Quase diariamente nos chegam especulações sobre a sexualidade de alguém famoso: será que ele é? Basta o sujeito estar na crista da onda, ser bonito, fazer sucesso, vencer, para que comecem a levantar suspeitas sobre sua orientação sexual. Por traz disso estão conceitos machistas e preconceituosos. À falta de horizontes, à mente minguada dos trogloditas machistas e dos fofoqueiros profissionais, unem-se estereótipos daninhos e a difusão do pensamento lugar-comum, que se reproduz sem questionamentos, sem explicações, sem conhecimento: o "pré-conceito".
O caminho é tortuoso. Tudo começa na construção da ideia negativa de que todo gay é um homem mal-acabado, com defeito. Ser gay, portanto seria vergonhoso, ruim, fraco, pior, covarde etc. Por fim, impõem-se as conclusões: homem tem que ser rude; se você não é rude, você não é homem; se você não é homem, você é gay; logo, você é pior. Homem não pode ser vaidoso; se você é vaidoso, você não é homem; portanto você é gay; logo, você é ruim, merece ser menosprezado, ridicularizado, maltratado. Homem que é macho não recusa uma mulher; se as mulheres não são o seu objeto de desejo, você não é homem; se você não é homem, é gay. E por aí vai…
Levantar suspeitas sobre alguém famoso visa ofuscar os seus méritos. Tem o propósito de nivelar por baixo, diminuir virtudes, talvez para amenizar o desequilíbrio entre o famoso e o invejoso. No caso dos homens, questionar sua masculinidade parece funcionar: ele pode até ter sucesso, mas não é macho, é gay.
Por que gays famosos se escondem? Existem depoimentos de atores globais que se escondem pelo temor de não serem mais escalados para os papéis de galãs, caso assumam sua homossexualidade. Ou até mesmo perderem o emprego. Existem referências a cláusulas contratuais de famosos que os obrigam a manter sigilo sobre sua orientação homossexual, ou que impõem sansões caso haja qualquer comportamento que venha a ferir a imagem proposta pelo contratante. Mas, existem também aqueles que preferem manter esse assunto em foro íntimo, entendendo que ser gay não é uma informação importante para compor seu personagem público.
Gays famosos que se assumem publicamente contribuem, sem dúvida, para a construção de uma imagem positiva a nosso respeito. Jean Willys colaborou demais para isso, ao se assumir gay durante o "Big Brother", como se lembram. Sair do armário faz bem à saúde e promove valores como a coerência e a honestidade.
Mais que uma forma de perpetuação de sua cultura, os afro-descendentes, por exemplo, incentivam o assumir- se negro como um ato político de libertação e resistência à opressão. Também os gays devem incentivar o assumir- se gay como algo que vai além da atitude individual: a construção coletiva de um movimento justo e forte o suficiente para vencer a luta diária contra a homofobia. Apesar de tudo, entendo que o "outing" é uma decisão individual. Alguns se dispõem a isso. Outros, não.
Não é papel de jornalista, paparazzi, militante, namorado magoado, mãe, vizinho invejoso, de ninguém. Cada um é o dono da chave de seu armário. Cabe ao próprio gay tornar pública sua orientação sexual. Cabe a nós e ao poder público criarmos condições seguras para que isso ocorra sem traumas. Apontar o dedo e denunciar comportamentos homossexuais de famosos que não querem se revelar é uma tentativa de prejudicá-los, de exigir que se comportem diferente do que querem, de forçá- los a uma posição que não desejam.
Nosso papel é outro: incentivá-los, sim; denunciá-los, não.
Camisinha sempre! 

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