sábado, 17 de março de 2007

Homossexuais no Mercado – 17/03/2007


Se fosse dada às empresas a oportunidade de construir a equipe perfeita, todos seriam homens, brancos, fortes, sem defeitos físicos, católicos, da classe média e heterossexuais. Esse é o padrão do executivo ideal – se o mundo não fosse uma colcha de retalhos que se harmoniza na diversidade, ou pelo menos deveria se harmonizar.
Mas, esse é o ponto de partida: como o mundo não é mesmo essa perfeição uniforme, vão se fazendo concessões. Se não encontrou nenhum louro, aceita o moreno. Como não apareceu nenhum homem, serve uma mulher. E por aí vai. Existe até uma escala de tolerância.
Há pouco tempo, tive notícias de uma experiência realizada durante um encontro de empresários, onde foi distribuída uma lista com diversos grupos a partir de critérios que se embaralhavam: gênero, raça, idade, etnia, compleição física, orientação sexual, etc.
A tarefa era numerá-los em ordem de preferência num processo de seleção de executivos. Recolhidas as respostas, foram computados os pontos de cada grupo e apurados preferidos e incômodos. Resultado: homossexuais e ciganos somente seriam contratados se não houvesse mais nenhuma outra opção.
Fico imaginando uma empresa hipotética perfeita que tenha conseguido essa proeza: todos são os executivos ideais. Surge um problema e o diretor convoca sua equipe para que apresentem soluções. Num coletivo com o mesmo background, possivelmente surgirá uma solução.
Na empresa que aposta na diversidade, onde convivem brancos, negros, mulheres, homens, jovens, velhos, casados e solteiros, portadores de deficiência, gordos, magros, homo e heterossexuais surge o mesmo problema e o diretor convoca sua equipe.
Com certeza, ele terá várias soluções, oriundas de visões de mundo diferentes e poderá escolher a melhor.
Adotar a diversidade significa ganhar em eficiência. Recentemente, o professor da USC Kirk Snyder, após cinco anos de estudos com executivos norte-americanos, concluiu que os chefes gays alcançam níveis de engajamento e satisfação na equipe 35 a 60% maior que os outros chefes.
A explicação, segundo os pesquisadores, estaria no olhar apurado dos gays que conseguem um melhor rendimento de sua equipe graças à capacidade de perceber cada indivíduo e encontrar maneiras de explorar melhor suas habilidades naquela função.
Essa habilidade, infelizmente, segundo o pesquisador norte-americano, nasce da capacidade de nos adaptarmos a “uma sociedade que não foi feita para eles (nós)”. Na verdade, essa capacidade nos tornaria pessoas mais intuitivas, comunicativas e experts na solução de problemas.
Não é nova a idéia da superação. Já se sabe que adolescentes homossexuais estão mais sujeitos aos males do estresse por se esforçarem mais que seus colegas como forma de se afirmarem no grupo que os rejeita.
Também não é nova a tese da maior flexibilidade e prontidão, graças à capacidade atribuída aos homossexuais de se adequarem a novas situações, reagirem rápido, por estarem menos arraigados a valores limitadores como hábitos e tradições.
Um olhar menos preconceituoso pode concluir que homossexuais estão mais abertos a novas idéias, sobrevivem melhor aos conflitos humanos, se atrevem, se arriscam, até mesmo por falta de outra opção.
Executivos homossexuais estão preparados para o mercado, pois possuem no seu histórico o enfrentamento de umas das mais fortificadas estruturas sociais, que são o machismo e o heterossexismo.
Talvez nós, gays, tenhamos conseguido escapar da covardia que é praticada contra nossos meninos homens, submetidos a um processo educativo que os destitui de valores como ternura, delicadeza, paciência, respeito, em nome de um comportamento masculino.
Talvez, depois de adultos, tenhamos mesmo qualidades raras que acabam por fazer com que nosso rendimento, como executivos, seja superior àqueles que ainda se encontram presos a preconceitos e comportamentos ultrapassados.
Camisinha sempre!

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