sábado, 10 de fevereiro de 2007

Um por dia! – 10/02/2007



Um dos mais importantes trabalhos desenvolvidos pelo movimento GLBT leva a assinatura do Prof. Luiz Mott, antropólogo, fundador do Grupo Gay da Bahia e vigilante atento dos rumos da luta pela garantia dos direitos dos homossexuais no Brasil. Prof. Mott coleta notícias e denúncias de assassinatos de homossexuais no país e divulga suas estatísticas anualmente.
  O trabalho meritório, entretanto, revela somente a ponta de um enorme iceberg de preconceito e violência contra homossexuais, uma vez que nem todos os casos merecem a atenção da mídia, ou chegam ao conhecimento do Prof. Mott ou da rede de militância, uma das principais fontes para a coleta de dados sobre a violência contra homossexuais.
  Pois são exatamente esses números que nos assustam em 2007. Somente em Janeiro, pelo menos 9 homossexuais foram assassinados por homofobia – o sentimento de aversão aos homossexuais, que se manifesta através da violência incontida: um a cada 3 dias. Em fevereiro, até o dia 7, pasmem: 7 assassinatos – um por dia. Todos com requinte de crueldade, conseqüência de nossa formação machista e deformada em relação ao diferente.
  Em 2006, a pesquisa do Professor Mott registra dois assassinatos em Minas Gerais: um auxiliar de enfermagem e um padre. Ambos na faixa dos 40 anos. Em 2007, ainda não registra nenhum. Isso não significa que a homofobia seja menor em Minas. Quando nos lembramos das ofensas, das agressões verbais que permeiam o nosso dia a dia, nos tocamos que, além de proteção, precisamos provocar mais rapidamente uma mudança profunda de comportamento.
  Ainda impera em nossos dias a idéia de que a violência pode reverter a homossexualidade. Rapazes insistem em afirmar sua masculinidade atacando os homossexuais, agredindo-os, humilhando-os, muitas vezes incentivados por pais orgulhosos do comportamento viril do filho varão. Não é raro ouvirmos conselhos ao pé do ouvido de pais de jovens afeminados: “Fulano anda meio fresquinho. Isso é falta de couro! Dá nele umas chineladas que quero ver se não conserta!” E a família endossa a violência que hoje nos assusta.
  Além da família, quando as religiões nos acusam de vivermos no pecado, nos condenam ao fogo do inferno, alimentam nos fanáticos a idéia de que a nossa eliminação, a violência contra gays, lésbicas e principalmente travestis e transexuais, não seja pecado e sim a redenção, a eliminação do pecado em si. Legitimam a violência contra os homossexuais como um castigo divino.
  Precisamos reverter esse quadro. A luta contra a homofobia não é só dos homossexuais. É de todos que têm e defendem o direito de ter suas particularidades. Quando violamos ou permitimos que o direito do outro seja violado estamos endossando a possível violação do nosso direito.
  É preciso que não nos conformemos com a violência homofóbica cometida contra si mesmo ou contra um vizinho, um parente, um conhecido. É preciso trazer para dentro dos lares esse debate e nos indignarmos quando, por exemplo, nos deparamos com o discurso machista de um big brother que retribui a abordagem de um gay com porrada. É preciso que governantes, defensores dos direitos humanos, responsáveis pela segurança pública, estejam alertas e atentos a esses dados que comprovam o massacre de homossexuais provocado pelo preconceito.
  Camisinha sempre!

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