sábado, 17 de fevereiro de 2007

Desejos transformistas - 17/02/2007


Chegou o Carnaval. Tudo preparado, agendado, organizado para que os quatro dias de folia sejam plenos de alegria. No ar, o cheiro instigante do ultrapassar limites, desafiar o estabelecido, se atrever. O erotismo " e o homoerotismo - paira, liberando desejos e permitindo o proibido.

O transformismo tem no Carnaval um dos seus momentos máximos. Não é nem uma questão de ser gay e, sim, mais uma demonstração da dominação machista que faz com que o homem se aproprie até do feminino: ele estende suas garras ao guarda-roupa da mulher, suas gavetas, suas bijuterias, saltos e maquiagem.

Uma brincadeira, uma caricatura da mulher. O brasilianista James Green, em seu livro "Além do Carnaval" ressalta que, os heteros que se vestem de mulher, sempre mantém algum elemento másculo que lembre e não deixe dúvidas de sua identidade sexual: a barba, ou o peito cabeludo, ou a perna sem depilar.

Os gays, por outro lado, encontram nos dias de Momo a oportunidade de potencializar seus desejos transformistas. Mesmo aqueles que não se interessam tanto por isso se arriscam à experiência da transgressão do gênero.

Enquanto alguns rapazes se espremem desajeitados nos vestidos das namoradas destacando o quão distantes estão do ser mulher e reforçando o quanto são machos; outros vêm nessa ocasião exatamente a possibilidade de se sentirem femininos, vestirem um salto, um vestido e uma peruca.
Brincam de ser o objeto de desejo, "enganar" o macho e fazer piadinhas sedutoras para os "bofes" descamisados. Em Minas, os gays sempre tiveram seu lugar no Carnaval. Em todo o interior, os blocos dos sujos, as bandas que se reúnem nas praças, largos e mercados sempre atraem a comunidade GLBT.

No tempo dos blocos caricatos, que desfilavam em caminhões decorados pela Avenida Afonso Pena disputando as premiações do Carnaval de Belo Horizonte, os homossexuais sempre tinham um papel de destaque, principalmente as travestis e transexuais.

Ali perto, ao contrário, a classe média brincava o Carnaval girando pelos salões, nos bailes do Minas Tênis ou do Automóvel Clube, escondendo o mundo gay por trás da cortina hipócrita da tradicional família mineira. Mas, com certeza, os gays estavam lá, à espreita de oportunidades fortuitas.

Entretanto, nosso Carnaval ganha mesmo a marca dos homossexuais se considerarmos o trabalho fundamental de um verdadeiro exército de gays, lésbicas e pessoas trans que se dedica às tarefas de criar, planejar, confeccionar fantasias e adereços, maquiar, pentear e outras tarefas menos delicadas como empurrar carro alegórico e servir de apoio nos desfiles de escolas de samba.

São esses que fazem com que o Carnaval tenha o glamour, o brilho e a beleza que tem encantado o mundo inteiro. Isso é Carnaval! Nesses quatro dias de folia, as ladeiras de Minas estarão repletas de referências aos homossexuais, seja nos gestos e caricaturas, seja na exuberância e no glamour.

Estaremos brilhando nas avenidas, brincando nos blocos, trabalhando ou espalhados em caçadas noturnas, sempre retribuídas pelo atrevimento dos incontidos que se valem da permissão provocada pelo álcool, para liberarem seus homodesejos mais adormecidos.

Nessa hora, é importante lembrarmos que somos cidadãos plenos de direitos e que vivemos numa cidade que possui regras que devem ser respeitadas: não invadir o espaço do outro, não se arriscar em situações de perigo e não ultrapassar seus próprios limites.

Lembre-se: toda a fantasia se desfaz na quarta-feira. 

Bom Carnaval e camisinha sempre!

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