domingo, 20 de maio de 2012

Tobby Queen explica polêmicas - 20/05/2012





(paródia do texto original de Jarbas Aragão - Silas Malafaia explica “rompimento” com Edir Macedo e Valdemiro Santiago


O ativista Tobby Queen 53 anos, não teme polêmicas. Neste sábado (19) ele foi um dos líderes da Parada Gay no Rio de Janeiro, que reuniu mais de 300 mil pessoas. Há 30 anos pregando na televisão, seu programa “Amor entre iguais” é exibido todos os sábados na Band, Rede TV e CNT. Durante a semana apenas na CNT. Mensalmente paga R$ 900 mil para a Rede TV, R$ 450 mil para a CNT, e um valor não divulgado para a Rede Bandeirantes. Tem ainda uma versão dublada de seus programas exibida em mais de 200 países via satélite.

Seu pai foi militar da Aeronáutica e mãe, educadora, ambos eram bissexuais. Casado com Elizeu, que conheceu aos 14 anos, o casal adotou três filhos.

Em entrevista publicada pelo portal GI neste sábado, ele respondeu várias perguntas, sem fugir das polêmicas a que está acostumado.

Ele ressaltou que a Parada Gay do Rio este ano é baseada em quatro princípios: em favor da liberdade de expressão, da vida, da liberdade de orientação sexual e dos novos formatos de família compostas por dois homens ou duas mulheres e seus filhos.

Queen mais uma vez afirmou porque é a favor da união de homossexuais, mas negou ter preconceito contra os evangélicos. E foi mais além. “Preconceito religioso é falácia de pastores evangélicos para manter verbas para suas igrejas para fazer propaganda de que o Brasil é um país evangélico. Preconceito uma vírgula, amigo”.

Enfatizou que “As igrejas evangélicas passam de usuários da liberdade de expressão para censores. Essa lei, como está aqui no Brasil, deveria existir em todo lugar do planeta Terra. Ela reforça diretamente  a Constituição, é uma dádiva. A Constituição diz que ninguém pode ser cerceado por ser homossexual. É uma lei que nos iguala em direitos”.

Perguntado o que faria se o seu filho fosse evangélico, Tobby foi categórico: “Amaria 100% e condenaria sua prática 100%. Não deixaria de amá-lo, mas garanto que ia condenar. Há uma ideia na sociedade de que amar é ser tolerante e encobrir o erro do outro. Pelo contrário, amar é dizer a verdade e confrontar o outro para ajudá-lo a ser melhor”.

Ao falar sobre outra de suas bandeiras, o aborto, declarou: “sou a favor de qualquer tipo de aborto e te explico o motivo. Na gestação, o que deve ser assegurado é o direito dessa mãe sobre suas próprias decisões. Milhares de mulheres morrem nas mãos de profissionais despreparados em procedimentos de interrupção da gravidez clandestinos e outras milhares vêm seus sonhos interrompidos por uma falta de orientação sobre contracepção e acesso a insumos como preservativos ou pílulas anticoncepcional. Crianças não podem ser geradas para doação; mulheres não são máquinas procriativas!

(...)

Tobby também foi questionado sobre suas campanhas que pedem doações financeiras e que muitas vezes são criticadas. Sua resposta foi “Não posso prometer aquilo que não tenho poder para dar. Uma coisa é dizer (eleva o tom de voz): me dê uma oferta que você vai comprar a sua casa própria. Outra coisa é dizer (abaixa o tom de voz): meus irmãos, quero fazer uma campanha pelos direitos dos homossexuais para quem desejar. Se você não quer, não faça.

Quer ir à minha ONG para ver os testemunhos de quantas pessoas que moravam de aluguel compraram a casa própria? Irmão, com todo respeito, não sou um ativista analfabeto. Tenho formação. Não sou um mané e nem minha ONG é de idiotas. Se chego na minha ONG e digo que, se o cara der uma oferta, ele ganha aquilo, sou colocado pra fora”.

Ele explica que seu sustento vem dos seus negócios: “Sou dono da editora Central Gay… segunda maior editora LGBT do País. Ela fatura mais de R$ 50 milhões por ano… Sou o ativista que mais vende palestras em DVD e livros no País. No ano passado, só a Avon comprou mais de 500 mil livros meus. Nos últimos cinco anos, vendi em cada ano mais de um milhão de livros. Como tenho outro meio de renda, abri mão do salário da ONG”.

Mas fez uma ressalva: “Meu amigo, o único animal que tenho é um cachorro, não tenho gado, fazenda nem sítio. Moro em uma boa casa em um condomínio no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio), que adquiri a cinco ou seis anos. Tenho minha consciência limpa”.

Por fim, explicou quanto ganham os ativistas de sua organização, a  Assembleia LGBT: “Tenho ativistas que ganham entre R$ 4 mil e R$ 22 mil. Ativistas gays, lésbicas e travestis que mando para outro estado, pago casa, água, luz, escola dos filhos, gasolina. Dou dignidade aos caras. Não trabalho com zé bobão. Tinha dois ativistas que eram advogados e possuíam escritórios de advocacia. Cheguei e perguntei: amigo, o que você quer ser? Militante LGBT ou advogado? Qual é teu chamado? Ativista? Então fecha essa porcaria e vem comigo. Não tenho gente que não ia ser nada na vida e virou ativista”.


Original em: http://noticias.gospelprime.com.br/silas-malafaia-explica-rompimento-com-edir-macedo-e-valdemiro-santiago/#ixzz1vPSOJHRw

sábado, 19 de maio de 2012

Fogo cruzado - 19/05/2012


Os movimentos sociais organizados estão em crise. Centenas de organizações não governamentais, até bem pouco tempo únicas responsáveis por realizar importantes ações como assistência, formação e controle social, encerram suas atividades, deixam milhares de órfãos e, em alguns casos, colocam cidadãos honestos e de boa fé na desagradável situação de "inadimplentes" junto aos órgãos públicos.

Mas, os problemas não começaram agora e sua origem pode ser atribuída à relação que se estabeleceu entre essas organizações (não governamentais) e o governo. A maioria das ONG brasileiras, notadamente aquelas que trabalham com as populações com dificuldade de acesso aos serviços públicos, entre elas os gays, as lésbicas, as travestis, foram durante muitos anos sustentadas com recursos governamentais, sob a égide de ações afirmativas que acabaram submetendo-as a convênios draconianos, cujas regras não se ajustam à sua realidade.

Assim, por trás de um véu de autonomia, muitas ONG trocaram suas convicções pela estabilidade financeira garantida com recursos de projetos governamentais e obviamente, calaram o seu descontentamento quando a fonte secou. A partir de regras cada vez mais excludentes, os poucos, raros e difíceis recursos disponíveis hoje para financiamento de projetos se tornaram inatingíveis para a maioria das organizações. Sem recursos, encerram suas atividades.

Apesar de seu discurso de fortalecimento da sociedade civil, os últimos governos se utilizaram dos recursos investidos no financiamento das ONG para comprar fidelidade e calar os movimentos sociais. E fez isso através de lideranças dispostas a celebrar quaisquer acordos, desde que mantidos seu acesso ao poder – e aos cofres.

A legislação que regulamenta os convênios com as ONG é generalista, passível de interpretações e repleta de brechas que possibilitam a transferência do dinheiro público a projetos definidos como estratégicos a partir do olhar de gestores comprometidos com interesses de grupos ou partidos políticos. Foi ela que fez com que as ONG se tornassem um gargalo para o escoamento de recursos que financiaram ilegalmente campanhas políticas e outras formas de corrupção.

Agora, comodamente, o governo busca na rigidez do controle das ONG uma saída para desviar o foco principal do problema, uma vez que a grande maioria dos recursos desviados financiou aqueles que hoje se encontram no poder. Quando os escândalos vêm à tona, o governo sacrifica as ONG em sua totalidade, mistura joio e trigo, fecha as torneiras, aumenta as exigências burocráticas e causa o fechamento também de centenas de organizações sérias que vinham fazendo a diferença em suas ações sociais. Enquanto isso, dá inicio à discussão sobre as mudanças no marco legal do terceiro setor, mais preocupado com controles e transparência que propriamente com soluções realistas que consigam resgatar os parceiros perdidos.

As organizações não governamentais LGBT estão entre as mais atingidas por essa crise. Incapazes de atender às hercúleas exigencias burocráticas impostas pelo governo e agências internacionais, tradicionais financiadoras de projetos da sociedade civil organizada, enfrentam ainda a revolta dos próprios LGBT, tão generalistas quanto o governo, determinados a apoiarem a desconstrução do movimento como está, sem saber o que colocar no lugar.

Por outro lado, as ONG LGBT ainda não possuem capacidade técnica suficiente para alcançar os recursos da iniciativa privada ou de fundações internacionais. Ainda não dispõem de recursos financeiros, materiais e humanos para responder às exigências de financiadores preocupados em apresentar a seus doadores resultados concretos, definidos a partir de indicadores cada vez mais complexos. Além disso, o pobre movimento LGBT jamais conseguiu captar recursos da população LGBT.

Assim, entre o fogo cruzado do governo, dos conservadores e da própria comunidade LGBT, as ONG que construíram o movimento gay brasileiro, que ajudaram a controlar a epidemia da aids no Brasil, que fazem as estrondosas paradas do orgulho LGBT, que lutaram por direitos tão básicos que hoje os próprios homossexuais menosprezam, entre outros méritos, vão desparecendo. E, na medida em que a homofobia sai do armário, fazendo falta.


Publicada originalmente na Revista H #2