sábado, 3 de outubro de 2009

Dinheiro - 03/10/09



Recentemente, na novela "Caminho das Índias", Glória Perez nos levou a conhecer uma cultura onde os bens materiais têm uma importância decisiva na construção das famílias e das relações de afeto. Por lá, as famílias fazem abertamente as contas antes de decidir por um casamento. Por aqui, as contas são feitas às escondidas.

Aqui, na nossa Índia brasileira, muitos pais e mães ainda enxergam em seus filhos a possibilidade de conquistarem um patamar econômico e social que não conseguiram sozinhos. Na verdade, ainda se ressentem dos prejuízos financeiros quando seus filhos não atendem suas expectativas. Nós gays sabemos bem o que é isso e o quanto alguns pais nos olham como o fim das esperanças de sair do proletariado e alcançar a burguesia, coisa que só se consegue sendo "muito macho".

No imaginário coletivo, se o cara é gay e é pobre, é pobre porque é gay. Além de lutar, como todos, contra a carestia, o cidadão gay suporta o peso da homofobia e suas consequências diretas no nosso padrão e qualidade de vida. Ainda temos muita dificuldade de nos inserirmos no mercado de trabalho: as empresas ainda consideram um problema ter em seus quadros um funcionário gay. Isso se traduz em desemprego, depressão e transtornos, principalmente em casa, onde o gay, que já era um desgosto, se não rende dinheiro torna-se um traste.

Mas existem os gays ricos, aqueles que conseguem driblar a homofobia. Existem até os que ganham dinheiro exatamente por serem gays, habilidosos empreendedores que souberam usar a homossexualidade como fortaleza em seu marketing pessoal.E é aí que a hipocrisia fala mais alto e a homofobia se cala diante do dinheiro. Gay que fica rico passa a ser aceito e amado desde que nasceu.

As travestis conhecem bem essa historia, quando, após seus giros pela Europa, com um mercado sexual amplo e dinheiro farto, voltam bem cuidadas, com a poupança recheada, e são acolhidas por aqueles que sempre as condenaram. O dinheiro fala mais alto que a transfobia e, se alguém desrespeita, a família defende: "No final do mês é ela que paga nossas contas". Pronto.

Não é difícil entender, então, por que o dinheiro e posses adquirem tanta importância entre nós, revoltando os pobres e assoberbando os novos ricos. Se não combate diretamente a homofobia, ele vira o jogo, cala os homofóbicos e os obriga, muitas vezes, a estenderem para nós um tapete vermelho tão hipócrita quanto seus interesses, num país onde tudo se compra com dinheiro, até mesmo respeito.

Camisinha sempre!


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