sábado, 10 de outubro de 2009

Bronzeado - 10/10/09



Há um ano, o sempre inapropriado primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi deixou escapar sua índole racista quando chamou o recém-eleito presidente dos Estados Unidos de "bronzeado": "Obama é bonito, jovem e bronzeado". Racismo porque distingue o outro pela cor de sua pele e, pior, revela sua intenção no discurso indireto que denuncia: bronzeado é uma tentativa descarada de suavizar a carga negativa que ele mesmo atribui ao fato de ser negro.

Pois não é que um ano depois, o incorrigível Berlusconi volta à carga em Milão, referindo-se ao encontro que tivera com o presidente norte-americano em Pittsburgh? "Quero trazer saudações de um homem... Qual é o nome dele? Só um minuto... É alguém bronzeado... Barack Obama!".

Por que "bronzeado"? Por que não negro ou afrodescendente? Como pode um estadista do século XXI supor que seria simpático ou menos racista destacar a cor da pele do presidente Obama chamando-o de bronzeado? E por que repetiu? Com certeza para tentar tirar o caráter preconceituoso de um deslize cometido no ano passado: repetiu a ofensa para atribuir pouca importância ao fato, para demonstrar que aquilo não é algo que mereça deixar de ser dito. Parece insano? Mas, não é.

Silvio Berlusconi teve um comportamento bastante conhecido de quem é gay. Racismo de lá, homofobia de cá. É comum cruzarmos com sujeitos que tentam se aproximar e demonstrar naturalidade no trato da nossa homossexualidade de forma tão equivocada quanto a do primeiro ministro italiano. Pessoas que tentam demonstrar intimidade se referindo a nós pelo que há de mais pejorativo e esperando que entendamos isso como uma tentativa de quebrar o gelo. E se você reclama ainda escuta: "Você me conhece, sabe que eu faço piada, mas respeito demais vocês gays." Atitudes de respeito não precisam ser esclarecidas.

Não sei o que pode levar as pessoas a considerarem que a intimidade reduz o grau ofensivo de um tratamento pejorativo. Algumas aproveitam sua presença para relembrarem a última piada homofóbica e esperam que você entenda isso como uma forma simpática de tratar a questão com naturalidade. E que ria da piada.

Se você quer causar uma boa impressão e não parecer preconceituoso, procure não fazer desse tema o assunto principal com seu conhecido gay. Detalhes da orientação sexual de uma pessoa não são temas de discussão para uma roda social, independente se homo, hetero ou bissexual. Lembre-se: gays não se resumem à sua homossexualidade.


Camisinha sempre!

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