sábado, 17 de novembro de 2007

Nós na Mídia – 17/11/2007


Definitivamente, estamos na mídia – seja nos noticiários ou nos apropriando das suas ferramentas. Já no domingo, 11/11, o drama de Bernardinho, personagem gay da novela das 21h "Duas Caras", da Globo, estava nas páginas dos jornais e revistas. Na semana anterior, uma cena mostrou o rapaz sendo vítima de todo o tipo de preconceito, após ser flagrado na cama com outro homem. O bonitão que se prestou ao papel de expor o rapaz e revelar sua homossexualidade saiu ileso da história. Em nenhum momento sua masculinidade foi colocada em dúvida, ao contrário do Bernardinho, apesar de terem sido flagrados juntos.
Aguinaldo Silva ainda promete fazer com que Bernardinho se apaixone por uma mulher, e caso o foco esteja nas possibilidades múltiplas do amor, nas suas rasteiras e na desvinculação entre afeto e realização sexual, a história pode nos surpreender. Porém, a abordagem corre o risco de alimentar a ilusão de uma possível mudança de orientação sexual e provocar a proliferação de curandeiros e curadores, salvadores e reorientadores a serviço da moral conservadora.
Saindo da ficção, terça-feira, 13/11, a realidade bateu com força à nossa porta. Preso em Aracajú, Sidclei Costa Silva, 23, confessou o assassinato de Mauro José Mascarenhas Pimentel dos Santos, 46, gay, irmão do humorista Cláudio Manoel (o Seu Creysson do "Casseta & Planeta"), ocorrido na semana passada em Salvador. Conheceram-se na rua, foram para o seu apartamento, discutiram e Mauro acabou assassinado a facadas. Sidclei levou seu celular e o DVD.
O enredo é nosso velho conhecido. O que nos leva a correr tantos riscos desnecessários? Se momentos de solidão, se doces desejos ou tristes ilusões, não importa. Além do perigo de se levar estranhos para dentro de casa, oferecer carona ou se isolar em companhia de desconhecidos, os gays continuam caindo na arapuca de negociações mal feitas, onde as regras, as propostas, os papéis não ficam bem definidos e acabam servindo de motivo para uma discussão violenta. E um fim trágico…
No meio da semana, uma vitória: o resultado concreto das estratégias de emancipação social promovidas a favor dos homossexuais. Na quarta-feira, 14/11, a equipe do Ponto G de Cultura do MGM apresentou os pilotos dos programas e vinhetas da MGM Web Rádio, que está prestes a entrar no ar pelo site da associação (www.mgm.org.br). Nos últimos meses, os computadores da ONG foram invadidos por efeitos, locutores, DJs, e a rádio nasce do espírito militante dessa juventude GLBT orgulhosa de sua condição.
Existe uma estética nova, uma linguagem, códigos que os diferenciam das demais tribos, que fazem com que a juventude GLBT tenha personalidade própria e esteja cônscia de seu lugar na sociedade, seus direitos e deveres. Com uma história que não chega a 40 anos de luta política no mundo, e menos ainda no Brasil, os resultados têm sido surpreendentes. Não pensávamos em atingi-los ainda nessa geração e é com satisfação que admiramos hoje o orgulho do Jonathan, do Cebola e equipe, apresentando o seu trabalho à frente da rádio.
E para que o feriado não passasse em branco, novamente a polêmica sobre a entrada dos eventos GLBT de Juiz de Fora no calendário oficial da cidade foi ponto de pauta na quinta-feira. Sem mais argumentos, os opositores se baseiam na exclusão, do desrespeito e no jogo de interesses políticos. O tema virou uma queda de braços sem sentido, uma questão de honra, a partir de uma situação criada pelo próprio poder público que, na primeira ameaça, literalmente "tirou o seu time de campo". Como pano de fundo, as articulações para as eleições de 2008 e o interesse final naqueles que fazem do voto sua triste moeda de troca.
Camisinha sempre!

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