Muito se falou, muito se propôs, muito se planejou. Gastamos fortunas para colocar governo e sociedade civil, lado a lado, pensando e propondo ações que pudessem por fim à homofobia no Brasil. Produzimos muito papel e muitas letras, criamos GT, Coordenadorias, Conselhos, Fóruns, Redes, Congressos, Seminários, Painéis, Conferencias... O MGM participou de quase todos e por um tempo acreditamos mesmo que estávamos no caminho certo, ao lado das pessoas certas e trabalhando para um país melhor, não para partidos políticos.
Com o passar do tempo, fui percebendo o quanto as propostas continuavam no papel, o quanto não avançavam para além dos debates e de outras novas propostas, novos GT, novos Conselhos, novos planos. Não percebia nenhuma intenção concreta de se mudar esse quadro. Pelo contrário, vimos perdoando e relevando constantes tropeços que secundarizavam nossas bandeiras, muitas vezes para atender exigências de negociatas de apoio político com os conservadores. Para garantir o movimento LGBT ao seu lado, em detrimento do pouco ou nenhum avanço das nossas bandeiras, há anos o governo alimenta as organizações LGBT com migalhas essenciais e mantem suas lideranças como escudos protetores de sua inércia. E não precisa muito: o apoio - ou o silêncio - pode ser trocado pelo patrocínio de um encontro nacional dos dirigentes de ONG LGBT; ou pelo apoio financeiro a um projeto para a ONG alinhada com o pensamento governista.
Um dia percebi também o quanto eu estava envolvido nessa teia e o quanto estávamos sendo usados para legitimar essa falta de atitude do governo, que alardeava aos quatro ventos do planeta seus programas e projetos voltados para o combate à homofobia, mas que não movia uma palha no sentido de criminalizá-la e que não trazia para si a responsabilidade de garantir aos homossexuais o mesmo nível de segurança do resto da população não submetida ao preconceito por orientação sexual ou identidade de gênero.
Durante todo esse tempo, o governo se limitou a construir planos e represou todas as críticas através do financiamento de projetos para as ONG aliadas - eventualmente daquelas mais barraqueiras - que foram quem efetivamente botou a mão na massa. O governo se acovardou diante do material produzido pelo Programa Escola sem Homofobia - financiamento do MEC para a ABGLT; se acovardou diante da campanha orientada para os jovens gays, maiores vítimas da aids, toda pensada e produzida por um GT formado por experts em Comunicação. O pouco que se fez nunca colocou o governo visível ao lado da luta contra a homofobia para além dos muros do gueto LGBT. Esse governo sempre se manteve ausente, desconfortável com esse assunto.
Ao invés de criminalizar a homofobia, esse governo acabou por criminalizar as ONG, acusadas de envolvimento com desvios ou malversação do dinheiro público e acabou colocando cidadãos de bem, trabalhadores, ativistas, idealistas, comprometidos com um país melhor, na condição de inadimplentes ou desonestos.
Nossas famílias estão preocupadas com a nossa segurança. A polarização incentivada por esse governo que se diz de esquerda - considerando que "os outros" são da direita; que se diz correto, enquanto os outros não o são; que aceita conviver e pactua com uma falsa contraposição entre homossexuais e religiosos; tudo isso tem nos colocado em risco. Risco de vida.
Não precisa ir tão longe assim para ver: passa lá na 307 Sul, no Simpsons.*
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Na noite de terça (7/10/14), quatro estudantes de 22 e 23 anos foram agredidos no bar, localizado na quadra 307 da Asa Sul. Seis pessoas teriam xingado e feito gestos ofensivos em função da orientação sexual de alguns deles.Um dos jovens foi ferido no rosto por uma garrafa de cerveja, jogada em direção a ele. Outro, acabou agredido com chutes e socos e precisou ser encaminhado ao Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). Mais tarde, foi transferido ao Hospital de Base do DF (HBDF) para passar por uma cirurgia de urgência. A jaqueta de couro de um deles também foi levada por um dos integrantes do grupo."
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