sábado, 13 de setembro de 2008

Ideologia – 13/09/2008


O sistema de partidos, que é a base da organização política nacional, na forma como está, não funciona. Quais são aqueles que possuem realmente uma ideologia? Porque é tão simples abrir mão de valores que deveriam ser essenciais aos partidos, quando os interesses eleitorais se apresentam? Como é possível se imaginar uma coligação entre as idéias do DEM, ex-PFL, e do PT? Entre o PSDB e o PT, tradicionais rivais políticos que vêm se revezando na situação e oposição? Entre os comunistas do PCdoB e os evangélicos do PRB?

O Brasil convive com isso há muito tempo e uma das mais tristes e vergonhosas coligações — em vigor até hoje — é a da chapa que preside o país, tendo à frente o operário presidente Lula e o mega-empresário vice José Alencar. De um lado o PT, partido comprometido com a defesa dos direitos dos homossexuais, do estado laico, dos direitos das mulheres; e do outro o PRB, do empresário da fé Edir Macedo e da Igreja Universal do Reino de Deus, que insistem em condenar e negar os direitos desses cidadãos.

Agora, para maior espanto, segundo o "Jornal do Brasil", o PCdoB se comprometeu a apoiar o senador pastor Marcelo Crivella num eventual segundo turno pela Prefeitura do Rio de Janeiro, desde que o PRB intensifique sua participação na campanha da candidata Jô Morais, em Belo Horizonte. Melhor acreditar no presidente do PCdoB, Renato Rabelo, que negou o acordo que jogaria para escanteio, além dos compromissos com os camaradas, a própria candidata dos comunistas, Jandira Fehgali, aliada histórica do movimento LGBT. Crivella, por sua vez, é o autor da expressão "ditadura gay" para se referir ao PLC 122, que criminaliza a homofobia e se encontra tramitando a passos lentos no Senado: um dos mais aguerridos opositores a uma das nossas mais caras bandeiras.

A união entre a esquerda radical e a direita conservadora demonstra que o que menos importa a um bom acordo político são as bases partidárias. Interesses eleitoreiros, loteamento de cargos, vantagens pessoais e privilégios encontram-se anos-luz acima daquilo que deveria ser valorizado como a essência do partido e base de nosso processo de decisão e escolha: sua ideologia.

Até que ponto crenças, convicções e compromissos importam no momento de se fechar acordos que garantam a aprovação de projetos de lei, emendas orçamentárias ou candidaturas? O que temos visto por este Brasil afora são coligações esdrúxulas que confundem completamente o cenário político nacional e revelam um sistema eleitoral fundado em partidos fracos, sem personalidade, no qual os interesses pessoais se sobrepõem às propostas ideológicas.

Camisinha sempre!


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