O sistema de partidos, que é a base da organização política
nacional, na forma como está, não funciona. Quais são aqueles que possuem
realmente uma ideologia? Porque é tão simples abrir mão de valores que deveriam
ser essenciais aos partidos, quando os interesses eleitorais se apresentam?
Como é possível se imaginar uma coligação entre as idéias do DEM, ex-PFL, e do PT?
Entre o PSDB e o PT, tradicionais rivais políticos que vêm se revezando na
situação e oposição? Entre os comunistas do PCdoB e os evangélicos do PRB?
O Brasil convive com isso há muito tempo e uma das mais tristes e
vergonhosas coligações — em vigor até hoje — é a da chapa que preside
o país, tendo à frente o operário presidente Lula e o mega-empresário vice José
Alencar. De um lado o PT, partido comprometido com a defesa dos direitos dos
homossexuais, do estado laico, dos direitos das mulheres; e do outro o PRB, do
empresário da fé Edir Macedo e da Igreja Universal do Reino de Deus, que
insistem em condenar e negar os direitos desses cidadãos.
Agora, para maior espanto, segundo o "Jornal do Brasil",
o PCdoB se comprometeu a apoiar o senador pastor Marcelo Crivella num eventual
segundo turno pela Prefeitura do Rio de Janeiro, desde que o PRB intensifique
sua participação na campanha da candidata Jô Morais, em Belo Horizonte. Melhor
acreditar no presidente do PCdoB, Renato Rabelo, que negou o acordo que jogaria
para escanteio, além dos compromissos com os camaradas, a própria candidata dos
comunistas, Jandira Fehgali, aliada histórica do movimento LGBT. Crivella, por
sua vez, é o autor da expressão "ditadura gay" para se referir ao PLC
122, que criminaliza a homofobia e se encontra tramitando a passos lentos no
Senado: um dos mais aguerridos opositores a uma das nossas mais caras
bandeiras.
A união entre a esquerda radical e a direita conservadora
demonstra que o que menos importa a um bom acordo político são as bases
partidárias. Interesses eleitoreiros, loteamento de cargos, vantagens pessoais
e privilégios encontram-se anos-luz acima daquilo que deveria ser valorizado
como a essência do partido e base de nosso processo de decisão e escolha: sua
ideologia.
Até que ponto crenças, convicções e compromissos importam no
momento de se fechar acordos que garantam a aprovação de projetos de lei,
emendas orçamentárias ou candidaturas? O que temos visto por este Brasil afora
são coligações esdrúxulas que confundem completamente o cenário político
nacional e revelam um sistema eleitoral fundado em partidos fracos, sem
personalidade, no qual os interesses pessoais se sobrepõem às propostas
ideológicas.
Camisinha sempre!
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