sábado, 30 de janeiro de 2010

Olá Bial - 30/01/10


Como os milhares de telespectadores brasileiros, acompanho sua carreira, suas crônicas e sua simpatia contagiante na tela da TV há muito tempo. Depois do "Big Brother", então, você se revelou mais ainda: é um expert em quebrar o gelo e ser ferino, sem ser deselegante e, acima de tudo, não perde a oportunidade de quebrar um preconceito.

Nesta edição do "BBB", você está diante de uma oportunidade rara de colaborar para desmistificar a imagem negativa dos gays. Primeiro, porque três cidadãos homossexuais estão sendo observados o tempo todo e terão a chance de exibir para o Brasil inteiro sua normalidade humanoide. Jean Wyllys cumpriu esse papel primorosamente no "BBB 5".

Como o Dicesar, existem aos montes e, como o Serginho, brotam jovens gays em qualquer terreno deste planeta. As Angélicas convivem conosco no dia a dia e suas dores e estratégias são nossas velhas conhecidas. Mas aqui, na vida real, o preconceito ofusca esses personagens e as informações sobre os maquiadores que trabalham como drag queens, sobre os fashionistas afetados e sobre as lésbicas-ladies-femininas não ultrapassam a "página 2": a homofobia ofusca e não deixa que as pessoas nos vejam alem de nossa homossexualidade.

Assim, pensei que você seria o melhor porta-voz para esclarecer conceitos que acabam provocando a homofobia e um colaborador nessa luta que não é só nossa, mas de todos que acreditam que o mundo é melhor sem preconceitos. Por que não esclarecer e ajudar a evitar expressões que, mesmo inconscientemente, reproduzem o preconceito contra os gays?

O que é LGBT? São dois ou um só T? A expressão "bichice" ofende os gays? Um rapaz é gay porque dança "mais solto"? Quando uma pessoa é gay? Por que um beijo entre dois homens é agressivo para uma criança e os tiros, socos e assassinatos dos desenhos animados não são? Por que alguns gays não estão satisfeitos de serem quem são e, se tivessem outra chance, preferiam nascer heteros?

Já ficou claro que não serão os gays que estão lá que irão ajudar a esclarecer a população. Dicesar, Serginho e Angélica limitam-se a viverem sua homossexualidade. Seus argumentos são limitados e, como eles, existem milhões de LGBT que se bastam com um conhecimento funcional das bandeiras e lutas do movimento gay.

Você, por outro lado, é o jornalista que fala para o Brasil todo e faz a ponte entre os "brothers" e o mundo real. É quem pode esclarecer dúvidas e encontrar argumentos que façam com que o "Big Brother Brasil 10" ultrapasse os limites do reality show e ajude a efetivamente quebrar preconceitos e evitar que a homofobia seja naturalizada em caricaturas e palhaçadas.

Camisinha sempre!


sábado, 23 de janeiro de 2010

Profissionais - 23/01/2010



Se você procurar na internet, encontrará uma lista de dez dicas preparadas pelo GGB (www.ggb.org.br) para alertar a comunidade gay dos riscos a que estamos sujeitos, muitas vezes por uma falta de atenção natural a situações que se repetem e que tanto nos tornam vulneráveis.

Entre as dicas estão algumas básicas, como evitar levar recém-conhecidos para casa e preferir encontros em hotéis, motéis ou saunas; não consumir bebidas oferecidas por estranhos e estar sempre atento ao seu copo ou garrafa em boates e bares para evitar ser dopado por soníferos; manter alguém sempre ciente de suas companhias, mesmo que seja um porteiro ou zelador; evitar se exibir ou alardear riqueza diante da sua nova companhia; enfim, dicas básicas que aprendemos desde cedo, mas que são esquecidas quando amadurecemos.

Muitos gays se satisfazem através da contratação de profissionais do sexo, na ilusão de que a remuneração por serviços sexuais garanta a confidencialidade de sua orientação sexual. Porém, falsos garotos de programa têm se aproveitado dessa invisibilidade, da impunidade e das fragilidades causadas por uma vida dupla. Gays que se utilizam dos serviços sexuais desses rapazes convivem com o perigo e a dificuldade de se distinguir entre quem realmente é profissional e trabalha com respeito e segurança para si e seus clientes e quem se faz passar por garoto de programa para usar dessa oportunidade e roubar, extorquir e muitas vezes matar aqueles a quem consegue enganar.

Nesta semana, o cabeleireiro goiano Wilton Ferreira, 30, foi mais um dos muitos assassinados nessa situação. Depois de um churrasco íntimo oferecido ao suspeito, Dione Gomes, 23, identificado pela PM como garoto de programa, Will morreu em sua própria casa, sob a "proteção" de dois cães pitbull e uma cerca eletrificada. Nada disso impediu o latrocínio do gay que, seguramente, abriu as portas de casa para seu algoz

Garotos de programa precisam de uma atenção específica por parte do governo e dos grupos que promovem e se preocupam com a segurança e a saúde dos homossexuais. Muitos gays se utilizam de seus serviços para obter companhia ou dar vazão a seus desejos. Sem contar que esses rapazes são os preferidos daqueles que não acreditam na possibilidade de uma relação afetivo-sexual estável entre dois homens e entendem que entre nós ela se mantém necessariamente num nível superficial, passageiro, que não ultrapassa a satisfação imediata do prazer sexual.

Para muitos de nós, garotos de programa significam um ombro amigo, a quem abrimos nossas confidências e com os quais compartilhamos nossos desejos mais secretos. Não são raras relações duradouras entre garotos de programas e seus clientes, abastecidas por uma fidelidade que envolve discrição, carinho, proteção e dinheiro.

Camisinha sempre!


sábado, 16 de janeiro de 2010

Jovens - 16/01/2010



Como tradicionalmente acontece, vem aí a campanha de prevenção às DST-Aids do Carnaval 2010. Na mesma linha dos anos anteriores, ela elege um segmento prioritário, com base nos mais atualizados dados epidemiológicos coletados pelo governo.

Em 2010, a prioridade recai sobre a população jovem, com destaque para dois segmentos onde a situação está ainda mais grave: jovens gays e meninas entre 13 e 19 anos. As jovens representam a primeira faixa populacional em que o sexo feminino ultrapassa o masculino: desde 1998, para cada dez meninas infectadas existem oito meninos, invertendo uma tendência histórica da epidemia.

Do outro lado, houve um aumento considerável dos registros de casos de Aids entre os gays na faixa de 13 a 24 anos, que em um período de dez anos passou de 29% para 43,2%. Isso significa que mais de um terço das infecções em rapazes se concentram nos 8,4% que declaram já ter mantido relações sexuais com outros homens.

Na região Sudeste, os últimos dados divulgados revelam que 35,4% dos jovens entre 15 e 24 anos não usaram preservativo na sua primeira relação sexual, apesar do elevado grau de conhecimento sobre a Aids, sua forma de transmissão e prevenção - 95,6% das pessoas sabem que o uso do preservativo é a melhor forma de prevenir a infecção do HIV e 93% têm conhecimento de que não existe cura para a Aids.

Para o diretor da Escola Jovem LGBT, de Campinas, Deco Ribeiro, as estratégias de prevenção voltadas para os jovens gays deveriam mudar sua abordagem: "A informação escrita e falada atinge o lado racional do cérebro, enquanto o ato sexual está no lado emocional. Por isso o alto grau de conhecimento sobre a epidemia não se refletir necessariamente no uso da camisinha". Deco acredita que a solução pode estar na utilização de estratégias mais lúdicas, como a música, o teatro e outras manifestações culturais que envolvem a emoção.

Para o chefe da prevenção do Departamento Nacional DST-Aids do Ministério da Saúde, Ivo Brito, a linguagem das campanhas ainda carece de modernidade e existe um distanciamento grande entre o discurso utilizado e o que efetivamente alcança essa geração. "Não está clara a forma como esses jovens exercem a sua sexualidade".

Ivo acredita que uma das principais barreiras ainda é o acesso à camisinha que não chega aos espaços de socialização dos jovens, principalmente a família e as escolas. "Mesmo entre os colégios que participam dos programas de prevenção desenvolvidos pelo governo, o índice de distribuição de preservativos é baixo", completa.

Reconhecida a importância de se trabalhar esse público, a campanha do Carnaval será apresentada no Rio, no dia 06 de fevereiro.

Camisinha sempre!


sábado, 9 de janeiro de 2010

Recursos - 09/01/10


O movimento LGBT, organizado através de suas associações, participa do disputadíssimo mercado de captação de recursos, onde as mais relevantes causas concorrem selvagemente a fatias dos R$ 12 bilhões anuais que financiam o terceiro setor no Brasil, sejam eles governamentais, da iniciativa privada ou provenientes de agências internacionais. É com uma parte desses recursos que nossas ONGs constroem uma imagem positiva dos homossexuais, derrubam preconceitos, combatem a homofobia, dão assistência aos discriminados e apoio aos enjeitados buscando assim uma forma de atenuar as injustiças a que estamos submetidos.

O governo ainda é o principal financiador do movimento LGBT. Ele se utiliza do apoio a projetos para cumprir o compromisso de promover políticas públicas voltadas para essa população, uma vez que as organizações da sociedade civil são reconhecidamente mais eficientes no alcance direto desse segmento. Os repasses são formalizados através de editais de seleção e a assinatura de convênios unilaterais, cuja gestão absorve grande parte das energias das ONGs que, em última instância, deveriam estar voltadas para sua atividade fim.

Não é fácil ter acesso a esses financiamentos. Os convênios governamentais impõem condições duras de serem cumpridas pelos pequenos: não permitem que a diretoria da ONG seja remunerada; exigem regularidade fiscal, depósito de contrapartidas e o compromisso de aplicação somente em algumas despesas elegíveis que não incluem a sua própria manutenção; além de prestações de contas financeiras e de processos que demandam um conhecimento técnico apurado que poucas possuem.

E por que a iniciativa privada não financia o movimento LGBT? Apesar de algumas empresas reconhecerem as benesses de um balanço social consistente ao final do ano, elas não se mostram preocupadas com uma causa em si, mas sim no efeito que um apoio possa ter na opinião pública, em seu superávit e seus negócios. Na verdade, os investimentos no apoio às ONGs se refletem diretamente nos lucros, uma vez que um balanço social consistente habilita-as a certificações exigidas para o comércio de produtos nos grandes mercados internacionais.

Entretanto, o dinheiro da iniciativa privada se direciona para o apoio a causas unânimes, reconhecidamente aplaudidas pela totalidade dos consumidores. Nesse contexto, até a defesa de animais silvestres é mais interessante que os direitos dos homossexuais e ficamos sujeitos ao controle e às condições impostas pelos governos federal, estaduais e municipais.

Camisinha sempre!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Em 2009 - 02/01/10



Em 2009, pelo menos dez gays, lésbicas e travestis foram assassinados em Minas Gerais. Por homofobia. Pelo simples fato de exercerem o direito de serem autênticos, sem fingimentos e simulações que pudessem fazê-los parecer diferentes daquilo que são, para agradar as expectativas do outro.

Em 2009, produzimos toneladas de documentos, acordos, planos, programas e projetos e poucos gramas de suor voltados para ações concretas que garantissem nossa condição de cidadãos plenos de direitos e deveres. Sequer comemoramos o primeiro aniversário da primeira conferência LGBT do planeta, porque em junho de 2009 não tínhamos ainda nada para mostrar.

Fechamos 2009 com um Plano LGBT, legitimado por uma Conferência LGBT, que criou uma Coordenadoria LGBT, que talvez consiga a inclusão dos LGBTs no orçamento público para que, enfim, algo possa ser feito. Nesse passo, seremos atropelados pelas eleições de 2010 e não existe nenhuma garantia de que um próximo governo mantenha os compromissos assumidos nas Conferências, nos Planos ou nas Coordenadorias.

Em 2009 tivemos mais de 200 paradas gays espalhadas pelo Brasil. Desde as pequenas cidades, onde poucas dezenas de atrevidos ativistas desafiaram o conservadorismo local, até a maior do mundo, que mobilizou cerca de 3,5 milhões de pessoas na avenida Paulista. Apesar do sucesso da estratégia de visibilidade para a promoção do movimento LGBT, em 2009 as paradas foram muito criticadas: improviso, desorganização, insegurança, em consequência dos escassos apoios financeiros.

Em 2009, os evangélicos não nos deram paz. Pastores-parlamentares fizeram barreira até contra projetos de reconhecimento de utilidade pública de nossas associações, e as poucas conquistas que tivemos foram à custa de muita tenacidade, jogo de cintura e capacidade de negociação. Na TV, nos plenários, nos templos, os "silas malafaias" da vida fizeram do combate ao PLC 122, que criminaliza a homofobia e tramita no Senado, o símbolo de sua luta contra as forças satânicas e mantiveram-no agarrado em comissões, audiências e estratagemas burocráticos. E jogaram sujo, usando de sofismas e explorando a ignorância de seus seguidores, lobotomizados pela falta de perspectivas, que deixaram-se levar pela conversa mole da "mordaça gay".

Dois mil e nove, enfim, oferece a nós, nossas lideranças e associações um vasto material para ser analisado e reorientar nosso futuro. Que venha 2010!

Camisinha sempre!